Lançamentos de 2020 da psicodelia brasileira + playlist.
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Hoje é solstício de verão e também segundo alguns astrólogos o fim da Era de Peixes e início da Era de Aquário, período que promete mudanças energéticas, transições, inauguração de um novo pensamento e o entendimento pela paz, amor e luz. Sei que é difícil se manter good vibes num ano como 2020 mas importante lembrar e celebrar as produções solares que ele rendeu, como os debuts da akhi huna (DF), da Carabobina (GO/Venezuela) e o duplo da Suco de Lúcuma (SP), além das novidades da Bumbo Caixa (SP), dos Verdes e Valterianos (PE), da Astralplane (BA), da Todomundo (SP) e da perseguição pelo Sol do Heitor Valim (SP). Um ano que muitas vezes pareceu um sonho de tão surreal e que foi bem apropriadamente embalado pela vibe onírica da música do Wallacy Williams (CE), da Theo Charbel (MT), da Flor’s Flowers (MG) e das 4AM do Tagua Tagua (SP).
E se “coletivismo” e “compartilhamento” são as palavras-chave do calendário da Era de Aquário, na cena psicodélica br elas já passaram o ano em voga marcando presença nas parcerias dos The Outs (RJ) com a Slowaves (PA) e a Abby Cole (EUA), da Cachalote Fuzz (MG) com a Fernanda Vital (MG), da Chico de Barro (RJ) com a Não Não-Eu (MG), no intercâmbio de videoclipes do D. Selvagi (SP) com o Davi Rodriguez (Alemanha), no split álbum da Oruã (RJ) com a Disco Doom (Suíça), na espiral sem fim dos Mineiros da Lua (MG) com o DTRA (MG) e na jam azeitada da Aminoácido (PR) com os irmãos Muñoz (GO), além das aparições dos reizinhos dos feats boogarinhos que lançaram singles com o Tagore (PE) e com a Kalouv (PE) e também aparecem no cósmico ‘Endless Space’ da Winter (PR).
Em muitos momentos 2020 também nos forçou a voltar o olhar para trás e rever conceitos, planos e ideias, e foi exatamente isso que a Cidade Dormitório (SE) fez trazendo uma nova roupagem para algumas de suas faixas mais populares com o ‘Verões e Eletrodomésticos’, assim como as reinterpretações apresentadas nos ‘Remixes da Fenda’ da Papisa (SP) e na ‘AUTOCURA’ da Viratempo (SP) que buscaram um olhar externo convidando amigos para remixar suas músicas, e também os Boogarins (GO) que resgataram uma série de demos gravadas nos EUA em 2016 e lançaram no ‘Manchaca Vol. 1 – A Compilation Of Boogarins Memories, Dreams, Demos and Outtakes from Austin, TX’.
Nem tudo são flores no flower-power da psicodelia e as produções desse ano também se pautaram em temas sócio-políticos, como a reflexão sobre o negacionismo na ‘Onda Errada’ da Betina (SP), o questionamento sobre o tal do cidadão de bem na ‘Lagoinha’ da Soundlights (RS), e o ponto de vista realista-pessimista dos discos ‘Depois do Fim do Mundo’ da Supervão (RS) e ‘Piorou’ do Tantão e os Fita (RJ) que envoltos em retalhos sonoros e no flerte com gêneros eletrônicos soam como a trilha sonora definitiva para a distopia apocalíptica que foi 2020.
A temática obscura fica um pouco mais abstrata nos glitches e experimentações dos trabalhos solo do Vitor Marsula (SP) e do Pedro Salvador (AL), que brincou e “frutificou” bastante o groove de seu progressivo. Essa mesma onda ressoou nas produções dos Nobres Cadelos (SP) e da Não Alimente Os Animais (RS), e também no space rock da O Janus (AP) que evocou as leis herméticas para assim como o MOMO. (MG) tentar manter um “rosto zen” num ano desafiador como este.
Podem haver contradições sobre o fato de estarmos dizendo adeus a um ano ou a uma era, mas acredito que seja coletivo o alívio por este fim. Para 2020 / Era de Peixes fazemos como a ÀiYE (RJ) e deixamos nossas mais sinceras ‘Gratitrevas’.
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