Nostalgia e futurismo se encontram em novo videoclipe do duo paraense. Assista ‘Sometimes’ + entrevista.
Começamos a semana na manha flutuando nas ondas da Slowaves, banda novinha formada por Matheus Nascimento e Carlos Duarte. Baseada em Belém/PA, a dupla fez sua estreia em 2019 soltando uma série de singles que contaram com produção de Dennis Guedes da The Outs, incluem versões de canções de Tom Jobim e John Lennon e apresentam acertadamente a estética e personalidade sonora da Slowaves: um mix de electro/dream/ambient pop salpicado de tons oitentistas – quem gosta de Cigarettes After Sex por exmplo vai curtir.
ouça Slowaves:
O duo tem desde então se mantido bem ativo e no início desse ano soltou o single ‘Digital Dreams’, que ganhou videoclipe dirigido por Jon Alcaide, diretor espanhol bem conceituado no meio indie, e veio anunciar o EP ‘I’, debut da Slowaves lançado agora em abril em parceria com o selo Midsummer Madness e também com os franceses Alter K e Pschent Music.
Dando sequência ao fulgor que nem o momento de quarentena tem ofuscado, a Slowaves lança agora o videoclipe de ‘Sometimes’, faixa que fecha o EP ‘I’. O clipe dirigido por Alan Borgartz apresenta uma espécie de colagem de samples visuais com imagens resgatadas dos anos 60, trabalhadas de forma a criar um diálogo entre a nostalgia analógica e um futurismo digital.
assista ‘Sometimes':
Aproveitando o lançamento, conversei com a dupla sobre o novo EP, concepção do clipe de ‘Sometimes’, relação deles com a cultura francesa, versões de outros artistas e também sobre sonhos digitais, confira tudo aqui:
Desde o ano passado vocês têm estado bem ativos, inclusive levando essa estética de electro/dream/ambient pop para versões de ‘Insensatez’ de Tom Jobim e ‘Oh My Love’ de John Lennon que achei incríveis! Como rolou a escolha dessas músicas que originalmente diferem tanto da proposta da Slowaves?
Acho que eles foram os dois artistas que mais nos influenciaram na infância. Ouvir discos como ‘Urubu’ e ‘Double Fantasy’ foi um fato que nos marcou. Além da nostalgia, há uma qualidade de composição invejável. Recentemente estávamos ouvindo muito Tom Jobim para começarmos a construir harmonias melhores, e o John é uma referencia pra nossa banda de como gostaríamos de cantar uma musica pop. Gostamos de pegar musicas que já são clássicos e repaginar por estudo de produção. Lançamos esses dois, mas temos vários não lançados de que gostamos bastante, como um do Elliot Smith; quem sabe lançamos algum dia.
No mês passado vocês lançaram o EP ‘I’ e desde que bati o olho fiquei curiosa sobre esse nome. Qual o significado dele pra vocês?
Nos perguntamos se é possível ter um nome que atribua conceito a um disco, que dure, e com o qual você se identifique por muito tempo. Isso é raro. Então a ideia foi fazer algo comum, o que torna um nome interessante, pois abre um grande leque de possibilidades, e você nunca tem certeza sobre o que é de fato. Houve um cuidado para o nome não ocupar um espaço maior do que realmente é.
Hoje vocês estão lançando o videoclipe da faixa ‘Sometimes’ que propõe esse diálogo entre passado e futuro, analógico e digital, certo? Nos falem um pouco sobre a concepção desse vídeo.
(Essa deixamos pro Alan Borgartz responder, que fez a concepção do video): Com o diálogo abismal feito entre a nostalgia analógica e um futurismo digital, não encontramos só barreiras temporais e tecnológicas, mas também a transformação social e sentimental, migrando de um nível pequeno de exposição atrás de uma linha de telefone para o momento presente das redes sociais moldadas em total exposição, e o nascimento da imagem pública para o cidadão comum. A partir destas ideias se inicia a concepção do vídeo de ‘Sometimes’, inspirado na cultura do sample já realizada há décadas pela música, em que se recorta e cola trechos musicais em uma nova disposição, na busca de um novo resultado final. Esta arte no vídeo funciona por meio do “garimpo” de arquivos antigos e esquecidos, como comerciais, documentários e videos analógicos caseiros. A nova predisposição das imagens, com o ritmo da música, cria o anacronismo e a sensação de que o vídeo foi especialmente gravado para essa música.
Vocês já disseram que são fortemente inspirados por artistas de música eletrônica da França, como Claire Laffut, Vendredi Sur Mer, Paradis, entre outros. Seus EPs também foram lançados pelo selo Alter K de lá e na faixa ‘Sometimes’ podemos conferir versos em francês. Nos contem sobre essa relação da banda com a França?
Em 2019 ouvimos o disco “Recto Verso” do Paradis, e ficamos apaixonados pela sonoridade soft house. Ouvindo mais artistas da cena francesa decidimos que a ideia do EP seria misturar Pop, Electro e House, e fazer da forma mais soft possível. A Alter K lançou dois artistas que estávamos ouvindo: Kid Francescoli e French 79. E quando enviamos o EP para eles, entenderam perfeitamente a proposta.
Pra fechar: o primeiro single do ‘I’ foi ‘Digital Dreams’ que também veio acompanhado de um videoclipe bem viajadão. O título dessa faixa sempre me faz pensar em algum conto distópico de ficção científica, daí queria saber como vocês imaginam os sonhos digitais da Slowaves?
Ainda não tivemos a chance de encontrar a nossa imagem “fantasiosa” nos sonhos digitais, tudo está acontecendo tão depressa, e ficamos tão envolvidos nisso, que talvez tenhamos perdido essa imagem.
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