PREMIÈRE: banda mineira presta homenagem ao futurismo russo em novo videoclipe. Assista ‘Balalaica’.
foto: Claudão Pilha.
Já fizemos alguns lançamentos exclusivos aqui no blog mas acho que essa é a primeira vez que uso essa palavra: première! Sinto-me fina✨
O que não é muito fino é beber vodca Balalaika né? rs. Pra quem não sabe, o nome Balalaika vem de um um instrumento musical bem engraçadinho típico da Rússica (esse aqui), e também é o título de um poema escrito em 1913 pelo russo Vladimir Maiakovski, que nos anos 60 ganhou versão em português pelas mãos do poeta e tradutor paulistano Augusto de Campos.
Segura essas infos aí que agora vou apresentar o Vinikov & Os Fatos Alternativos: Vinícius de Morais do Espírito Santo, aka Vinikov, é um cantor, compositor e multi-instrumentista de Belo Horizonte-MG que atua na cena independente brasileira há mais de 10 anos em bandas consagradas como a The Dead Lover’s Twisted Heart onde é baixista e compositor. Mais recentemente assumiu também o contrabaixo na banda de punk rock The Dead Pixels, e no final do ano passado, lançou seu primeiro disco solo entitulado ‘Babyloneliness’.
Pois bem, hoje Vinikov assume guitarra e vocais e une-se aos Fatos Alternativos Biata (bateria), Miguel Javaral (baixo), Paim (teclas) e Daniel Saavedra (guitarra solo) para dar mais musicalidade e movimento à versão brazuca de ‘Balalaica’, com um videoclipe dirigido e finalizado pelo cineasta Humberto Mundim, que mescla imagens dos rapazes tocando com frames do cinema russo do começo do século XX, prestando homenagem ao futurismo russo e à obra de Augusto de Campos. P.s.: pouca gente sabe que sou graduada em tradução, então tô achando a valorização desse trabalho linda de morrer <3
Conversei com o Vinikov sobre essa conexão com a cultura russa, próximos trabalhos, companhias para beber vodca e outras coisas, confiram aqui:
Vinikov, Balalaica,… conte-nos de onde vem essa conexão com a cultura russa.
No começo dos anos 2000 eu tinha um grupo de amigos com quem eu encontrava para beber, fazer um som, ouvir música e escrever poemas. O grupo se auto-intitulou “Os Vagabundos Iluminados” e alguns anos depois lançamos um livro de poemas chamado “Exemplar disponível ao Roubo” que era fruto desses encontros ao longo dos anos. Faço essa digressão porque foi num desses encontros que o amigo Marcos Braccini me chamou de Vinikov e como disse ele então, era o nome de um personagem do livro ‘Ana Karenina’ do Tolstói que ele estava lendo na época. A partir daí inventamos um nome russo pra cada um dos amigos , o Thiago virou Thiakov, o Marcos virou Marcov e daí por diante. Enfim, a minha relação com a cultura russa e a forma como ela aparece em meu trabalho sempre foi uma coisa bastante lúdica, sempre foi uma Rússia muito imaginária pra mim, mas é claro, conheço algumas referências russas do cinema, da literatura e das artes plásticas que são bem canônicas assim. Falando de música, a minha referência que chega mais perto é a do leste europeu, que também tem muito a origem slava. Teve uma época que existia uma balada em Belo Horizonte chamada tuba-in e tocava muito gypsy jazz e coisas afins do leste europeu que estavam na moda. O Gogol Bordelo estava bastante bombado, inclusive inspirou o nome de um outro bar em BH, o finado Nelson Bordelo, que tinha um climão de cabaré muito legal. É claro, frequentei bastante os dois na época e fui tentando fazer umas músicas inspirado no que eu ouvia.
A letra de “Balalaica” é uma adaptação de um poema de Maiacovski, certo? Literatura e poesia são fontes de inspiração constantes para você?
Sim, a literatura e a poesia são fontes de inspiração pra mim. Apesar de que trabalho com música há mais de 10 anos, sou formado em letras e sempre gostei de ler e escrever também. No disco ‘Babyloneliness’ eu fiz uma adaptação para música de um poema do Paulo Leminski que virou a canção ‘Objeto’ e tem outra que é uma adaptação de um poema do meu próprio livro, o ‘Schizoscópio’ , lançado pela editora Aletria em 2014. Esse poema virou a parte narrativa da música ‘Lunaparques’, que também virou um clipe feito em parceria com o cineasta Dellani Lima. Sobretudo, mais recentemente, eu adpatei o Balalaica do Mayakovski (via Augusto de Campos) e também dois originais em língua inglesa do Laurence Ferlingetti e do Edgar Allan Poe, fora algumas outras adpatações de textos alheios que venho trabalhando. A ideia é lançar ao longo do ano umas 4 músicas, formando um EP de canções feitas utilizando poemas de outros autores.
Versões em português e russo do poema para quem quiser *comparar*:
Seu disco solo “Babyloneliness” é bem plural e traz referências que vão de jovem guarda à notas de protopunk e outras coisas. O que mais podemos esperar dos trabalhos futuros do Vinikov e Os Fatos Alternativos?
O protopunk tem sim uma influência crucial no meu trabalho. Acho que as mais evidentes são a do Velvet Underground e Lou Reed do começo da década de 70 e também do Modern Lovers e do Iggy Pop. A minha tentativa nesse primeiro disco foi muito a de costurar as influências gringas do rock com a da música brasileira, digo até conceitualmente para que o disco tivesse um mínimo de coerência. Por exemplo, a música ‘Caso Perdido’ tem um lado meio Tom Waits assim na voz e no clima mas tem um outro que é bem ‘Desilusão’ do Paulinho da Viola. “Camélia ficou viúva, Joana se apaixonou, Maria tentou a morte…” aquela coisa de ir citando os nomes das mulheres e tal. Algumas harmonias do disco remetem um pouco ao bolero e também ao samba, mas, o filtro por onde tudo isso passa ainda é o rock. O ‘transformer’ do Lou Reed, o ‘Lóki’ do Arnaldo Baptista e o ‘So Alone’ do Johnny Thunders são referências conceituais do disco que eu sonhei fazer. Depois desse EP de poemas musicados pretendo gravar um segundo disco com a banda Fatos Alternativos usando procedimentos de estúdio diferentes dos que usei no Babyloneliness, uma sonoridade que tenho na cabeça que não consegui alcançar nesse primeiro álbum. Acredito que o bilinguismo vai continuar, pois o inglês ainda funciona muito bem pra certas coisas e o português me leva pra outros lugares, caminhos mais árduos. Esqueci de falar da Jovem Guarda, mas numa frase só, a gente pode dizer que ela é o rock de garagem brasileiro com um pézinho ali no que viria a ser o brega.
Ouça o “Babyloneliness”:
Última pergunta: se você pudesse tomar uma vodca e bater um papo com qualquer músico do mundo, com quem seria?
Essa pergunta me lembrou do dia em que eu e os ‘Vagabundos Iluminados’ conhecemos o Arnaldo Baptista por ocasião do prefácio que ele escreveu para o nosso primeiro livro, o “Exemplar disponível ao roubo” lançado em 2011. Fomos no apartamento dele e da esposa Lucinha, no bairro Funcionários aqui em BH. Foi uma coisa bem estranha pra mim porque o Arnaldo foi um ídolo que falou muito direto pro meu coração durante grande parte da minha adolescência e do princípio da fase adulta e na ocasião eu quase não consegui nem falar nada com ele. Enfim, era o cara que mostrou que era possível fazer rock no Brasil, que fez com que me interessasse em aprender piano, que me surpreendeu com a honestidade com que falou dos seus problemas e de suas decepções, saudades e alegrias, sei lá, que tomou tantos anos da minha vida ali pensando nele, que eu lia sobre ele com o mesmo entusiasmo que lia sobre o Lennon ou o Kurt Cobain, sei lá. Acho que eu gostaria de tomar uma vodka com ele.
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Acho que seria bem interessante esse papo do Loki com o Vinikov regado a vodca heim? Se rolar me chamem que quero participar. Por aqui ficamos finalmente com ‘Balalaica’, apreciem sem moderação ?