Produtora curitibana aborda ciclos de repetição em novo em novo single-clipe. Veja ‘Samsara’ + entrevista.
foto: leticiah f.
Katze significa gata em alemão e também é o pseudônimo/trocadilho escolhido para o projeto solo da produtora musical curitibana Katherine Finn Zander, ex-integrante da banda Cora e baixista do grupo Noid. Desde 2017 a Katze vem fazendo uma alquimia entre elementos do R&B, trap, indie, rock e psicodelia para embalar divagações sobre questões de relacionamento, vida e morte, evocando para isso simbologias e conceitos dos ciclos da natureza – ali embaixo tem tudo explicadinho e também um paralelo entre a roda cármica e os algoritmos que atualmente regem nossas interações, a Katze brisa longe mesmo mas faz todo sentido.
O resultado disso tudo pode ser conferido no EP ‘Moon Phases of a Relationship’ (2017 – PWR Records) e também em três novos singles que começaram a dar as caras em 2020 e vêm anunciar o ‘Fratura Exposta’, primeiro full da Katze que tem lançamento previsto ainda para o primeiro semestre de 2021.
ouça Katze:
Aproveitando as novidades e o novo single ‘Samsara’ que saiu semana passada acompanhado de videoclipe, conversei com a Katze sobre suas principais referências (eu amo que tem de $uicideboy$ a Ivete Sangalo), relação entre fases da lua e relacionamentos, novo disco, conexão entre os conceitos de Samsara e IA e também o que todas querem saber: gatos ou catiorros? Confere nosso papo aqui que tá muito gostoso:
Katherine, seu trabalho solo abriga um universo bem plural, mesclando temáticas esotéricas, nuances psicodélicas e elementos do indie rock, trap e poetry rap. Conta pra gente quais as principais referências e inspirações sonoras e estéticas da Katze.
Não que sejam muito próximos do que eu faço, mas tanto $uicideboy$ quanto Lil Peep abriram a porteira do inferno que mescla elementos de trap e rocks alternativos e pesados de forma geral. Tem todo esse lance mais deprê e introspectivo do emo, mas com tendências de flow e bateria de trap e um pé na malandragem (risos). Dentro desse gênero meus heróis tem sido Killstation, a banda Love Ghost e o coletivo Spider Gang (BLCKK, BRUHMANEGOD, fl.vco, Lil Darkie, CXRPSE). Mas isso só pra localizar a “cena”, pq minhas refs de verdade são diversas, vão desde Smashing Pumpkins até Ivete Sangalo (amo o flow Ivete). Pra citar Brasil chamo Luiza Lian e Flora Matos, já os vocais pra sempre Warpaint, produção Grimes, temáticas daddy issues Lana del Rey com perspectivas de cura tipo White Poppy e estética popgrunge Beabadoobee. É um verdadeiro frankenstein haha.
playlistinha de referências mais diversa desse Brasil:
Me familiarizei recentemente com o EP ‘Moon Phases of a Relationship’ e fiquei realmente impactada sobre o quanto o ciclo narrado nele é real. Ele também me fez pensar num artigo chamado “Como planejar sua vida amorosa pelas fases da lua”, e gostaria que você compartilhasse um pouco de suas opiniões, vivências e/ou conselhos sobre o assunto.
Atualmente estou em um eclipse total das relações, tem sido até difícil falar sobre o tema. Mas a questão do EP era muito nesse sentido de um ciclo que sempre se repete, tão certo, regrado e natural quanto as fases da lua. E de certa forma, pra mim isso ainda é tão forte que foi parar no novo disco também, falo sobre especialmente na Samsara. E sei que vai soar abrangente, mas meu conselho sempre acaba sendo o mesmo, eu concordo com o ET Bilu, todavia acrescento: busquem autoconhecimento (risos), gosto muito de fazer terapia e acho que sem isso eu já teria ido pro saco.
‘Moon Phases of a Relationship’ também ganhou uma edição de remixes:
E se anteriormente você discorreu sobre o ciclo de relacionamentos, as produções pós ‘Moon Phases’ indicam uma expansão do campo de observação para os ciclos de vida, morte e renascimento. Nos fale sobre os conceitos que baseiam seu próximo disco, o ‘Fratura Exposta’.
O nome é meio literal, cada música é uma exposição profunda do que tem de quebrado dentro de mim. Geralmente são coisas não bonitas de se ver (ou ouvir), mas dores que temos que lidar. A exposição passa pelo papel fundamental da dor no processo de cura e as diversas metáforas que isso pode ter. Realmente reconhecer o que dói, o tamanho do rombo e tratar a ferida com a seriedade que ela merece e não com paliativos anestésicos. Ao expurgar todo o veneno da dor, eu também faço um convite pra audiência, como se fosse um grande kumbaya das nossas sombras. É um pedido de conexão, pq não tá tudo bem aqui e eu acredito que pra muita gente também não tá tudo bem aí, então será que a gente pode dar um pouco de espaço pra que as coisas ruins se manifestem e pra que assim, venham pra luz – se tornem visíveis e conhecidas? quem tiver nessa pegada, vem comigo o/
Uma das novidades das faixas ‘Obsidiana’, ‘Psicostasia’ e ‘Samsara’ são as letras em português. Foi um movimento planejado expressar essas questões em seu idioma original ou simplesmente aconteceu?
Foi absolutamente planejado e arduamente perseguido. Por mais que muita gente fale inglês, a conexão nos shows deixava a desejar e já fazia muito tempo que eu queria conseguir escrever em português. Mas o lance é que o português é uma língua muito desafiadora pra música, ela realmente te convida pro simbólico. No inglês é muito fácil, qualquer coisa soa bem e você pode rimar pão com feijão (ou o seu equivalente) que vai dar tudo certo. E também por ouvir muito som gringo, me faltava referência de flow brazuca, mas depois de muito insistir, uma hora a chave virou (regozijamos – risos).
Essa semana saiu o clipe de ‘Samsara’ que de certa forma oferece uma ponte entre passado, presente e futuro, apresentando imagens de vídeos em VHS da babe Katze (fofa!) sobrepostos por códigos de programação de uma rede neural de Inteligência Artificial. Nos fale sobre as premissas desse vídeo e a conexão dele com o conceito do Samsara.
Vou começar pelo final, já que estamos falando de ciclos (risos): a conexão é que embora uma inteligência possa ser autônoma, ela continua podendo ser programável. No caso da inteligência artificial isso é muito claro, estamos calejados já de reclamar e sofrer por conta de algoritmos nas redes, eles têm certa autonomia pra direcionar um determinado conteúdo pra você e outro pra mim, mas isso tudo foi planejado previamente. No caso do samsara, é praticamente o seu “personal hell”. É um ciclo incessante de morte e renascimento, onde o indivíduo só se liberta quando alcança o nirvana – então, o próximo renascimento sempre está vinculado às questões cármicas dos ciclos anteriores. Levando isso como metáfora pras experiências que vc tem e que costumam se repetir (nessa vida mesmo haha), a conclusão é uma: isso tudo foi construído / programado em algum lugar do seu passado, pode ir lá ver, vai tá no código (risos).
confira o videoclipe de ‘Samsara’ estrelado pela família Katze óin <3
Pra fechar, Katze é “gata” em alemão mas notei que no clipe de ‘Obsidiana’ aparecem alguns doggos porém nenhum cat, então fica aqui a pergunta definitiva: gatos ou catiorros?
Eu diria que gatorros haha, amo ambos, porém só fui a humana de doggos. O lobo em especial é a estrela do videoclipe de Waxing Moon. Já a coisa com o nome foi só um trocadalho infame com meu nome, mas também pode ser Katze por fora, mas Hunde por dentro haha.
kd os gatitos Katze??
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