O amigo que esperava: confira a estreia de Bruno Del Rey & A Corte Retrô + entrevista.
foto por Juliana Valle
O lançamento de hoje pode acionar alguns gatilhos aí no quesito saudade dazamiga, eu sei. Estou falando da canção ‘O Amigo Que Esperava’, novo single do cantor e compositor Bruno Del Rey, sergipano radicado em São Paulo que liderou as bandas Rockassetes e Bicicletas de Atalaia e vem desde 2017 se aventurando em carreira solo.
Flertando com sonoridades do soul, blues, jazz e outras referências vintage que se estendem ao visual de Bruno, certamente aprovadíssimo pelos Kinks, The Animals & afins lá em 1964, o projeto já rendeu os EPs ‘Respire Fundo e Diga 33′ (2017) e ‘Começou, Tem Que Ter Fim’ (2018), e agora ganha mais brilho com o acompanhamento da Corte Retrô, banda completa incluindo metais.
ouça Bruno Del Rey:
‘O Amigo Que Esperava’ foi composta em parceria com o atual baixista dos Mutantes Vinícius Junqueira e marca a estreia de Bruno Del Rey & A Corte Retrô. A nova faixa também ganhou um videoclipe produzido durante a quarentena pelo designer Rafael Marcelino, que mesclou referências do movimento artístico holandês De Stijl à estética retrô da banda para criar uma peça com atmosfera nostálgica e que harmoniza perfeitamente com a letra e momento que vivemos: amigos isolados com contato e movimentos limitados por quadrados que remetem a telas e paredes.
Aproveitando o lançamento conversei com o Bruno sobre a associação com a corte retrô, processo de criação de ‘O amigo que esperava’, referências estéticas para além de Mondrian e outras coisas mais, confere nosso papo aqui:
Bruno, primeiramente, nos apresente os ilustres integrantes da corte retrô.
A canção foi gravada com Leo Airplane nos teclados, Lari Eva no trompete, Renan Cacossi no sax, Leo Rosa na bateria, Kaneo Ramos na guitarra, Vivi Goeldi e Juliana Valle nos backing vocals e Rafael Aragão, responsável pelo baixo, mix e produção da faixa. Essa formação é a mesma apresentada no vídeo porém nos palcos a configuração muda um pouco já que tivemos duas participações especiais nessa gravação; Juliana Valle, que já possui seu trabalho à frente da Ozu e Leo Airplane, cujo teclado compõe o som de diversas bandas e artistas de Aracaju, minha cidade natal e onde Leo vive.
Hoje vocês estão lançando o single ‘O amigo que esperava’, uma divagação sobre nostalgia e saudade, sentimentos que afinam-se bem ao momento que passamos. Essa canção foi concebida durante a quarentena? Conta um pouco sobre o processo dela.
A canção, na verdade, foi escrita antes de todo esse estrago pandêmico. É uma parceria minha e de Vinícius Junqueira (baixista nos Mutantes). Vini já havia me apresentado essa melodia há bastante tempo, compus a letra e acrescentei alguns trechos ainda em 2017 durante as gravações do meu primeiro EP (Respire fundo e diga 33) produzido por ele, inclusive. Desde então sempre a tocamos nos shows mas foi preciso um tempo para que amadurecêssemos o arranjo. Quando entramos no período de quarentena, estávamos mais do que prontos para gravá-la e o contexto dialogava profundamente com a letra. Obviamente não a escrevi pensando num contexto de isolamento compulsório mas de afastamento circunstancial causado pela vida apressada e cheia de compromissos que nos cegam frente às prioridades, especialmente nas grandes cidades. Acredito que, de certa maneira, todo mundo já vivenciou esse sentimento de pedir desculpas por nem sempre ter a palavra certa, não ser “o amigo que esperava” e prometer melhorar ou “aparecer”, mais vezes do que o que poderia cumprir.
assista ‘O Amigo Que Esperava':
E a nova faixa veio acompanhada de um videoclipe com influências do movimento De Stijl que dialoga com a sua vibe retrô, principalmente quando lembramos do revival de referências Mondrian no visual mod dos anos 60. Nos fale sobre outras inspirações estéticas que você traz para seu trabalho.
Sou mesmo um grande apreciador de estéticas retrôs, especialmente dos anos 50 a 70 (na cultura ocidental), seja na música, seja nas roupas ou designs em geral. Na cultura pop por exemplo, música e moda sempre estiveram conectadas. Não falo aqui da moda excludente e superfaturada das passarelas, falo de arte em roupas, de criatividade nos desenhos e liberdade de escolha. Isso é comunicação e expressão artística. Quando opto por usar terno e gravata, estou trazendo uma referência estética dos anos 50 e 60 quando artistas costumavam se vestir assim nos palcos. Quando escolhemos timbres baseados na sonoridade das mesmas décadas, queremos ir além dos arranjos que compõem determinado estilo, queremos sugerir aos ouvintes o que escutamos para chegar lá. No clipe por exemplo, Rafa (Rafael Marcelino, motion designer) e eu conversamos
sobre buscar referências que curtíamos como Tarantino (nas cores e tipografia da introdução) e, como citado, do movimento De Stijl, qual fui apresentado através do The White Stripes (no álbum homônimo) e que já conhecia alguns elementos justamente pela cultura Mod que, por sua vez, também fazia uma referência retrô ( já que De Stijl havia acontecido muito antes, em 1917). Ou seja, a arte, bem como a estética da arte, sempre viveu de “releituras”, “referências”, meio antropofágica como a Tropicália. E por isso, não nos vejo como meros reprodutores, mas releitores, recriadores e, consequentemente, desenvolvedores de um estilo. Sonoramente, a estética Soul é o que nos guia forte mas quando Rafa (agora Rafael Aragão, produtor da faixa) e eu buscamos timbres e sonoridades do Soul americano da década de 60, não o fazemos para imitar mas para mesclar com nossas particularidades brasileiras e gerar algo que só poderia sair de nós. Recentemente ando muito envolvido com a linguagem de alguns “cantares” nordestinos como o Lamento e o Aboio e é incrível a ligação com o Blues, tenho trazido isso pra minha linguagem também (…) mas isso será assunto para um próximo single. 😉
Pra fechar, sempre gosto dessa provocação: mods ou rockers?
Terninhos vintage e flerte com Soul? Mod!
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