Mergulhe nos devaneios da musicista mineira com o EP ‘Only Dreamers’ + entrevista.
O projeto Flor’s Flowers nasceu do sonho da musicista e fotógrafa uberlandense Pâmella Borges de mostrar para o mundo algumas das composições que produz desde a infância. Contando com a colaboração do tecladista Gustavo Bessa e com Pâmella assumindo vocais e demais instrumentos, desde 2019 ela vem soltando uma série de singles que esse ano desaguaram no EP ‘Only Dreamers’, lançado em parceria com o selo Cena Cerrado Discos.
Tal qual a representação sonora de seus devaneios, tudo no trabalho da Flor’s Flowers vem envolto numa atmosfera onírica que combina elementos do indie rock, psicodelia e, claro, dream pop à delicadas melodias, vocais fluidos e letras que emprestam simbologias fantasiosas para tratar questões como fuga, ansiedade e esperança.
ouça ‘Only Dreamers':
Esse mês a faixa ‘Lies’ que abre o EP também ganhou um videoclipe produzido pela própria Pâmella, que usou conteúdos de seus stories no Instagram para a montagem. “Tem alguns momentos do clipe em que você se perde e não sabe exatamente o que está acontecendo, parece que estou sempre viajando, mergulhando em algo, tem pedaços da minha infância, cenas com meus amigos, minha gata e todos esses momentos juntos surgem como uma tempestade de lugares, cores e de sentimentos, e acabou que no final ficou exatamente o que eu queria transmitir.” conta ela.
assista ‘Lies':
Aproveitando os lançamentos, conversei com a Pâmella sobre suas referências musicais, produção do videoclipe, trabalho com fotografia, cura pela música e também sobre o que sonham os gatos, confere aqui:
Pâmella, no seu release você comenta que mesmo de forma subjetiva suas músicas falam sobre ansiedade e depressão, e que botar o conteúdo delas pra fora te trouxe alívio e tranquilidade. Vivemos um momento de ansiedade coletiva e sigo acreditando no poder de cura da música em suas diversas formas – seja produzindo, consumindo, pesquisando, comentando, etc. Neste âmbito, o que tem funcionado pra você?
A música sempre me ajudou em todos os âmbitos de minha vida. Quando eu era pequena eu brincava com o teclado, na adolescência eu só acordava se fosse com o fone de ouvido no talo, pra estudar eu precisava e preciso de música, pra me exercitar, pra limpar a casa, cozinhar, superar um fora, fazer alguma escolha, pra pensar, pro tédio, eu não consigo me imaginar num mundo sem música. Conheço músicas que sei que irão me acalmar, músicas que sei que me darão energia etc. Então pra ter música o suficiente para todos os momentos de minha vida, eu estou sempre procurando, pesquisando por músicas novas. Acho fantástico me apaixonar por uma música e pesquisar a história da banda, ver os shows, os primeiros vídeos, como tudo começou ou como tudo está fluindo. É fantástico me introduzir neste cenário, pensar que alguém pode ouvir minha música e se sentir tocado e incentiveado de alguma forma.
Seu som traz elementos de diversas vertentes – de dream pop, indie, synth music, psicodelia e outras coisas. O que você mencionaria como principais referências sonoras da Flor’s Flowers?
Eu tive várias referências pras minhas músicas, dentre delas Warpaint, Pond, Boogarins, Metronomy, Whitey, Gum, Cícero, Ventre, entre outras e eu poderia criar uma playlist de músicas e bandas que me inspiraram. Mas o que mais me influenciou dessas bandas foi a liberdade musical, mistura de elementos que nem sempre são da mesma vertente e especialmente essa fusão de componentes dentro de uma música foi o meu ponto principal de referência, pois transmite uma certa emancipação e eu amo isso.
a Flor’s Flowers também está na nossa playlist de lançamentos psicodélicos de 2019:
Você lançou recentemente o clipe de ‘Lies’, que foi montado com vídeos dos seus stories do instagram. Achei fantástico esse conceito por ser algo tão pessoal, e ao mesmo tempo pela relação com o nome da faixa, já que tem sempre esse lance de que rede social não é a vida real e tal. Nos fale um pouco sobre a concepção desse vídeo.
Até chegar nesse resultado eu tive diversas ideias da minha cabeça que nunca chegaram num consenso. Recentemente eu me mudei pra Melbourne (Austrália) para um intercâmbio e eu me peguei vendo e revendo fotos, stories, com a famosa saudade de casa, foi daí que surgiu minha ideia de fazer algo assim. Como eu não trouxe notebook, eu tive que editar tudo com meu celular e não, meu celular não é nenhum modelo top de linha, então de certa forma foi trabalhoso. A partir do momento em que fui montando o clipe eu percebi que estava se tornando um reflexo de como minha cabeça estava naquele momento, o que eu achei irônico e divertido, pois é exatamente sobre o que eu estou falando na música. Tem alguns momentos do clipe em que você se perde e não sabe exatamente o que está acontecendo, parece que estou sempre viajando, mergulhando em algo, tem pedaços da minha infância, cenas com meus amigos, minha gata e todos esses momentos juntos surgem como uma tempestade de lugares, cores e de sentimentos, e acabou que no final ficou exatamente o que eu queria transmitir.
Também gosto muito dessa fofura lo-fi da capa de ‘Only Dreamers’ e imaginei que ela tenha saído dos seus trabalhos de fotografia certo? Como funciona a relação música x fotografia pra você?
Sempre gostei de fotografia, é uma arte que eterniza momentos. Você pode olhar para uma mesma foto diversas vezes e sempre visualizar ou memorizar algo novo. Além da transmissão de sentimento e de interpretações que se pode fazer a partir de uma foto. O mesmo ocorre com a música. A música também eterniza momentos, você pode sempre descobrir algo novo da mesma música, além de ter várias interpretações da mesma. Acredito que são artes que combinam perfeitamente. Todo os trabalhos de fotografia que já realizei tinham música envolvidos. Houve casos em que a música me deu a inspiração que eu precisava para as fotos e casos em que fotos me inspiraram para a criação de alguma música. Sou muito privilegiada pois vivo rodeada pelos dois, ainda bem.
Pra fechar: aproveitando o gancho do EP e da capa já que eu também sou uma cat lover, sobre o que você diria que sonham os gatos?
Eu amo de paixão essa foto, o gato lindo e maravilhoso da capa é o Eros, o meu gato mais velho. Neste dia ele estava com a patinha engessada e estava fazendo muito frio e eu coloquei uma roupinha de bebê nele e podemos ver claramente pela feição do rostinho dele que ele odiou. Eu quis colocar essa foto na capa pois o Eros fez diversas participações especiais nas minhas primeiras gravações caseiras de música, toda vez que eu começava a tocar meu teclado ele chorava pra entrar no quarto, ele e a Hera, minha outra gata, e os dois ficavam deitados perto de mim enquanto eu tocava e as vezes pediam pra subir no meu colo. Então eu não poderia deixá-los de fora de forma alguma. Acho que todo gato sonha em adotar e escravizar um humano gentil que o trate bem, sonha com muito sachê, água corrente e fresca, sonha com uma caixa gigantesca de areia que esteja sempre limpa, com muros altos com vista para todo mundo e depois disso sonha com a tão desejada dominação mundial.
***