Confira o garagrunge de ‘The Rolling Stones Were Always Wrong’ + entrevista.
Conheci a Letty na época em que ela liderava o trio Letty and the Goos e lembro bem da primeira vez que a vi no palco e do quão impressionada fiquei por sua performance e segurança. Desde então acompanho tudo dessa garota, que em voo solo já lançou os EPs ‘anywhere but here’ (2015) e ‘songs i should never have written’ (2016) no melhor esquema DIY, além do single ‘Golpista’ que compartilhei aqui dia desses na trilha sonora da resistência.
Agora a Letty dá mais um passo em sua trajetória com o EP ‘The Rolling Stones Were Always Wrong’, lançado hoje em parceria com a Howlin’ Records. Aqui os vocais e guitarra de Letty vêm muito bem acompanhados pelos músicos Érico Alencastro (baixo), João Vitor Grassi (bateria), Matheus Krempel (vocais na faixa ’33’) e Guilherme Xibrusk (guitarra / vocais) que também assina produção, mixagem e masterização do EP. O resultado são 5 faixas que flutuam entre o caos e a serenidade e refletem todas as referências garage, punk, grunge e riot grrrl do que a Letty chama de “garagrunge”. Recomendo ouvir de manhã pra dar um up no dia ou ao vivo no show de lançamento que rola hoje mesmo – link para o evento tá ali embaixo.
Pois bem, conversei com a Letty sobre referências sonoras do EP, dicas para frontgirls e a polêmica Beatles vs Stones (treta!), confiram nosso papo aqui:
Letty, conta pra gente sobre o que os Rolling Stones sempre estiveram errados.
Sobre a VIDA! A gente cresceu ouvindo ‘You Can’t Always Get What You Want’ e se conformando que não, a gente não pode ter tudo o que quer nessa vida. E agora a gente sabe que não é bem assim; que só não consegue o que quer porque não fez um curso de liderança pessoal, não procurou um coach de relações pessoais, não ouve ASMR antes de dormir. Eu escrevi essa música, 33, depois de ver um vídeo de uma coach falando que os judeus foram mortos na câmara de gás porque não se motivaram o suficiente pra sair daquelas condições. Acho que isso explica muito sobre essa febre maligna do ‘você precisa mudar a sua vida’ e a nossa carência de afeto que nos joga nessas charlatanices.
Ouça ‘The Rolling Stones Were Always Wrong’. Faixa favorita: ‘Twin’ (Sujeito a alteração até o final do expediente bancário).
As faixas do ‘The Rolling Stones Were Always Wrong’ refletem bem o seu estilo “garagrunge”. Quais foram suas principais referências/inspirações sonoras durante a concepção do EP?
No final do ano passado eu estava prestes a embarcar numa aventura sonora sozinha e clean que estava me embalando. Mas aí eu vi o show da Deap Vally e tudo mudou. Ouvi-las já é algo encantador, mas quando eu vi aquilo ao vivo, só pude pensar “beleza, tá aí a maior banda do mundo. não dá pra ser menos agressivo que isso”. Ao longo desse processo fui fugindo um pouco das minhas referências antigas e buscando sons novos, e também acabei fleratndo bastante com a sonoridade do Against Me!, dos dois últimos trabalhos principalmente. E não posso esquecer da Amanda Palmer, que foi a artista que alimentou minhas ideias durante tudo isso.
Lembro que desde a primeira vez que te vi no palco fiquei encantada por sua atitude e presença. Alguma dica para outras jovens frontgirls que estão começando agora?
Ah, obrigada! Que lindo saber disso! Uma dica que eu gostaria muito que alguém tivesse me dado quando comecei a tocar é: não, você não parece idiota. A gente tem essa impressão no palco, de que não tá fazendo direito, não tá se mexendo como deveria, oh meu deus eu pulo e meus peitos balançam. Só se divirta e deixe essas paranoias lá longe.
Pra quem ficou afim de ver esse EP ao vivo e a cores, tem show de lançamento hoje mesmo na Associação Cultural Cecília:
Pra fechar, no ano passado você participou da nossa coletânea O Verão do Amor com uma versão emocionante de “She’s Leaving Home” – dá pra sentir sua conexão com essa música de longe e fico arrepiada toda vez que escuto. Agora quero saber de você: Beatles ou Stones?
Eu sou aquela pessoa que deixa a beatlemania explícita nos dois primeiros minutos de conversa. Foi a primeira banda de rock que ouvi na vida. Yellow Submarine foi a primeira música que aprendi a tocar. Então tenho uma relação muito profunda com eles que vai além de gostar das músicas. E nos outros quinze minutos de conversa, eu sempre digo “puts, adoro o Keith Richards, mas não ouço Rolling Stones”. É isso! Que comece a treta.
Ouça a versão de She’s Leaving Home:
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