Explore o universo particular da cantora em Hotel Vülcânia + entrevista.
foto: Thais Silvestre
2018 tem se mostrado mais um ano feliz para a música psicodélica brasileira – e antes que perguntem, sim, teremos playlist Feliz Ano Psicodélico II. Pra quem perdeu a primeira tá aqui:
Um dos lançamentos recentes nesse âmbito que têm andado nas heavy rotations dos meus radinhos é o ‘Hotel Vülcânia’ da Betina, lançado de forma independente em setembro. Acompanhada de Allen Alencar (guitarra), Bruno Matuck (baixo) Luccas Villela (bateria), Irina Neblina (teclado / piano) e Diogo Valentino (guitarra / produção do disco), Betina vem aqui continuar o trabalho que começou em 2016 com o elogiado ‘Carne de Sereia’.
Entrelaçadas por colagens, camadas e texturas diversas num fundo que transita pelo dream pop e a neopsicodelia, e com espaço para muitos sintetizadores, mellotron (amo) e até uma viola caipira, as 10 faixas desse disco são um convite ao universo particular de Betina, que é lúdico, delicado e denota uma força feminina absurda – o que fica bem claro em faixas como ‘Autocrítica No. 7′ e ‘As Luzes de Del Fuego’, algumas de minhas favoritas.
Pra quem ainda não viu essa alquimia no palco recomendo muitíssimo que o faça pois o show é tão magnético quanto o disco. Por sorte Betina & banda tocam nesse sábado na quarta edição do Festival Fora da Casinha, então não vacila não.
Aproveitando o embalo do disco e do festival, conversei com a Betina sobre o Hotel Vülcânia, protagonismo feminino no Brasil, trilha sonora para momentos de criação e expectativas para o Fora da Casinha, confere aí:
Hotel Vülcânia fica no meu imaginário, foi a partir de um sonho que tive que esse nome surgiu. Nesse sonho me veio o nome e uma capa que nunca consegui reproduzir satisfatoriamente e acabei por fazer minha versão interpretada da que vi no sonho. Posteriormente sonhei até com um trecho de música, que é o começo da primeira música do disco, “Anônima”.
A sonoridade desse disco é bem plural, várias texturas, muitos sintetizadores, e até uma viola caipira em Cal e Cinzas. Queria saber quais foram as referências sonoras pra concepção dele.
As referências são várias, acho que trago uma bagagem que tem muita música brasileira e demoraria muito para citar todos mas vale destacar Júpiter Maçã. Dentre os sons gringos Broadcast, Melody’s Echo Chamber, Stereolab e Grandaddy são influências fortes.
ouça Hotel Vülcânia:
Uma das minhas faixas favoritas é As Luzes de Del Fuego que incorpora a bela poesia da Heloísa Abdalla. Essa música me remeteu a um sentimento de luta e empoderamento feminino desde a primeira vez que ouvi, e daí que hoje mesmo vi um cartaz de uma peça com a Rita Cadillac fazendo o papel da Luz del Fuego, dançarina e feminista dos anos 40 que eu desconhecia até então. A música tem alguma conexão com ela?
Sim, a primeira vez que ouvi falar da Luz del Fuego eu era criança ainda, em um disco da Rita Lee que minha mãe ouvia sem parar, de lá pra cá sempre trouxe essa dançarina como uma mulher que não se deixava ser “ditada” nem pelos homens nem pelos regras da sociedade, e admiro muito que nos anos 40 ela já representava esse rompimento com o “lugar de mulher”. A música também fala sobre isso, mas em uma época onde nós mulheres já sabemos que isso não existe (ao menos aquelas que tiveram o privilégio de ter acesso a informação), só alguns falsos imperadores atormentados que ainda vivem sob este estado de cegueira.
mas gente, o som da Rita Leenda tinha me passado batido :O
Aproveitando esse gancho, estamos vivendo um momento onde a mulher tem se fortalecido como protagonista social e política aqui no Brasil – no último final de semana mesmo rolou um ato de protesto gigantesco liderado por mulheres. Queria saber seu ponto de vista sobre esse momento.
Somos uma força produtiva e, como você mesma disse, protagonistas da nossa própria história. Eu acredito que a revolução só se dará por meio da dissolução dos papéis de gênero. Acredito também que o patriarcado é um pilar desta sociedade doente em que vivemos. Uma presidente eleita democraticamente foi responsável por reduzir o quadro de atrofia da participação feminina na política, porém o patriarcado do deboche fez com que esta fosse impeachmada sem evidências reais de improbidade fiscal ou qualquer outra conduta errada. Eles querem nos dizer que nosso lugar não é na política. Contra esse e outros retrocessos sombrios fizemos uma das maiores manifestações democráticas do nosso tempo, somos muitas. Eu acho que um candidato abertamente sexista, homofóbico e racista como o que gerou esses protestos do dia 29, não se deu conta de que independente dos pensamentos retrógrados dele em relação às mulheres, o tempo são outros. #elenão #elenunca
E além de musicista você é artista plástica e tatuadora, inclusive a capa do disco é uma arte sua né. Curti muito a vibe lúdica dos seus desenhos e queria saber o que você escuta quando tá criando.
Nesse momento é bem variada a trilha sonora e geralmente reflete nesse processo de criação e resultado final da ilustração, mas vai de acordo com o meu mood no momento. Gosto de escutar playlists de lo-fi hip hop, Unknown Mortal Orchestra e Frank Ocean quando quero ser criativa e produtiva, vou para músicas mais tranquilas como Beach House ou Solange quando procuro um pouco mais de profundidade naquilo que estou criando e escuto uma tropicália quando quero algo bem colorido e alegre.
Para fechar: no próximo sábado você toca na quarta edição do Fora da Casinha. Conta quais são suas expectativas pra esse festival e o que podemos esperar do seu show lá.
Acho que vai ser um festival incrível, com um line-up lindo de bandas e artistas fodas! Podem esperar um show com a mesma aura e energia do disco, e eu me divertindo com o fato de que me sinto quase público assistindo minha banda de cima do palco. Tenho muito orgulho de dizer para esse show me acompanham Allen Alencar, Diogo Valentino , Luccas Villela , Irina Neblina e Lucas Oliveira e que queremos apresentar um show alto astral para todos como sei que este festival vai ser.
playlist pra ficar bem por dentro das atrações do festival:
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serviço:
FORA DA CASINHA IV
Mauricio Pereira
Garotas Suecas
Terno Rei
OZU
Dingo Bells
Betina
YMA
Bruno Bruni
goldenloki
Laura Lavieri
STROBO
Juliano Gauche
Molho Negro
Discotecagem
Alexandre Matias & Danilo Cabral [Tardes Trabalho Sujo]
Joyce Guillarducci [Cansei do Mainstream]
Rafael López Chioccarello [Hits Perdidos]
Alex Correa [Caverna]
INGRESSOS
www.sympla.com.br/fora-da-casinha__367961
Lote promocional – R$50
1º lote – R$70
2º lote – R$90
15H
06 OUTUBRO
Casa Híbrida | Av. Doutor Arnaldo, 1620 [ao lado do metrô Sumaré]
