Em seu terceiro disco, cantor baiano encara a fossa com ironia e humor. Ouça ‘Fossanova’ + entrevista.
foto: Carlos Tupy
Quem é que nunca esteve na pior né. Pois o cantor, compositor, multi-instrumentista e produtor baiano Murilo Sá decidiu encarar a fossa com ironia, humor e música. Nasceu assim o ‘Fossanova’, seu terceiro disco lançado hoje pelo Selo 180.
Como que assumindo a persona do solitário da faixa final do disco, aqui Murilo abre mão da companhia do Grande Elenco que esteve presente no ‘Sentido Centro’ (2014) e no ‘Durango!’ (2016) e toma pra si a tarefa de tocar todos os instrumentos, mixar e produzir o álbum. “Foi até um experimento de estudo de técnicas de gravação e tal” conta ele sobre a experiência ‘Fossanova’.
Ora soturno, ora otimista, ‘Fossanova’ é uma amostra daquela fina arte de fazer música triste-feliz, e evidencia mais uma vez a versatilidade sonora e engenhosidade de Murilo como letrista. As dez faixas vêm embaladas em ritmos que vão da bossa-nova psicodélica até um retorno ao western e nos convidam a partilhar das dores de um rompimento amoroso. O disco ainda conta com participações especiais de Tatá Aeroplano em ‘A arte de caminhar’ e Roger Alex em ‘Raio X’, e inclui a ótima ‘Cara’, composição de Heitor Dantas que já assinou parceria com Murilo no passado.
Conversei com o Murilo sobre o disco, relação com a metrópole, dicas pra sair da fossa e outras coisas. Também tem uma playlist “Murilo Sá Para Iniciantes” no final pra quem tá chegando agora, confere aí:
Murilo, o Fossanova é seu primeiro registro sem o grande elenco, e com ele você vem assumindo essa identidade de Murilo Sá e pronto. O que mudou em relação aos discos anteriores?
É então, não chamei ninguém pra tocar, as poucas participações nele foram pontuais e espontâneas, então achei que fazia sentido lançar assim sem o grande elenco. Dessa forma também fica mais fácil de achar nas redes e streamings. Mas não muda nada, a proposta é a mesma, são as minhas músicas assim como nos outros discos. Nesse acabei gravando tudo sozinho em casa e foi até um experimento de estudo de técnicas de gravação e tal, e é isso.
ouça o Fossanova:
Uma das participações do disco é do Roger Alex que tá preparando um álbum chamado Vila das Belezas e que traz uma temática central parecida com a sua, sobre o fim de um relacionamento e tal. Você diria que esse lance uniu vocês?
Claro, sempre une. Esse é o grande lance de fazer música que todo mundo vive, sente, que caiba na vida das pessoas e elas se identifiquem, e isso una as pessoas de alguma forma. Compartilhando dores ou alegrias… e isso rolou sim. O Roger me visitava nas madrugadas quando tava pelo centro, e nessas tivemos longas conversas sobre tudo isso, sobre fazer música com esse viés, e daí ele acabou gravando o teclado de ‘Raio X’.
aqui uma prévia do que será o disco do Roger Alex:
E a sonoridade do Fossanova tá bem diversa, tem desde a bossa-nova psicodélica da faixa título até uma continuação da vibe western que você começou lá no Durango! Me conta quais foram as referências sonoras pro disco.
Não sei dizer muito, porque não trabalhei numa busca de referências assim. Fui basicamente usando os equipamentos que estavam disponíveis e tirando os timbres do que eu tinha. Eu tava inclusive ouvindo pouca coisa nessa época, pra não me influenciar muito, deixar o inconsciente falar mais alto.
A faixa ‘Tempos Esquisitos’ traz o verso “presos na cidade” que também aparece na ‘Nenhum Grande Herói’ que tá no Sentido Centro. Queria saber como anda sua relação com a metrópole.
Sim, elas têm um link. Acho que tudo que se vive na metrópole influencia seu trabalho, principalmente quando se mora numa avenida como eu que tem muitos carros, muito barulho. Se você reparar tem várias músicas escapistas no álbum – ‘O Solitário’, ‘A Vida no Fundo do Mar’… então talvez seja meu subconsciente falando que estou cansado de viver no meio do caos. Porém tem muita coisa que ainda me prende aqui e que eu gosto também, é uma relação de dificuldade e amor.
Dicas pra quem tá na fossa nova.
A dica é mergulhar na fossa ao extremo. Assumir a tristeza, abraçar tudo e não ficar reprimindo, fingindo que tá tudo bem. Viver todos os excessos e perder todas as estribeiras, que depois desse momento sempre vem um insight positivo de superar tudo.
Uma música pra sair da fossa.
I Know It’s Over dos Smiths – provavelmente a música que mais influenciou esse álbum.
segue aí a dica do rapaz:
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É, não sei se Smiths ajuda a sair da fossa ou afunda mais rs. Pra quem curtiu o disco fica bem de olho na agenda do Murilo Sá que em breve tem showzin de lançamento. Por aqui ficamos com a playlist que montamos, enjoy ?