Banzo, afeto, e a necessidade de se libertar das amarras do racismo estão em disco de estreia da carioca. Ouça ‘Liberte Esse Banzo’ + Entrevista.
Banzo é uma palavra de origem africana que dá nome ao sentimento de tristeza, angústia e solidão dos africanos escravizados. Para a cantora e compositora carioca Luciane Dom esse sentimento ainda existe e se manifesta de diversas formas, inclusive em seu disco de estreia. ‘Liberte Esse Banzo’ saiu no início desse mês pela Mondé e fala sobre banzo, afeto, e a necessidade de se libertar das amarras do racismo. “É a tentativa de entender o protagonismo da nossa história – o negro no Brasil – e uma maneira de convocar o público a libertar o banzo nos ritmos de África” conta Luciane, que também é estudante de história pela UERJ.
Conversei com a Lu sobre influências, representatividade negra, colaboração com o Rubel e outras coisas, confiram aqui:
‘Liberte Esse Banzo’ é um caldeirão de sonoridades: tem jazz, reggae, afro music, mpb e diversos outros temperos. Nos fale sobre suas inspirações e influências musicais pra ele.
Pois é, uma das coisas que percebo na minha forma de pensar música é que ela deve ser livre. Minhas influências são bem múltiplas, mas tenho ouvido bastante jazz – Chris Daddy Dave, Mulatu Astatke, Snarky Puppy – principalmente por esta liberdade que o jazz traz. Você pode ouvir um reggae que tenha uma sonoridade jazz, ou seja, nenhum estilo fica limitado, e a música flutua sem rótulos fechados.
Ouça Liberte Esse Banzo aqui:
A questão da identidade negra está presente por todo o álbum – desde o nome à temática de faixas como ‘Madeira e Sal’ e ‘Quanto Pesa?’, que inclusive ganharam videoclipes bem viscerais. Como você vê a representatividade negra na cena independente hoje?
Estamos muito bem representadxs, tenho grandes amigas se destacando na música e isso é maravilhoso, uma conquista mesmo, mas acho que precisamos ganhar os espaços fora a música independente, sabe, ocupar todos os espaços mesmo, ganhar destaque no noticiários da TV aberta, essas coisas. Estamos caminhando para que isto seja possível.
Assista ao vídeo de Quanto Pesa? aqui:
A faixa ‘Abraça Menina’ é um olhar super sensível aos moradores de rua. Como rolou essa colaboração com o Rubel?
Rubel é um amigo de anos, conheci ele tocando mesmo, fazendo uns saraus na casa de amigos. Ele estava finalizando o disco Pearl e cada vez que nos víamos, ele tocava uma composição nova dele e eu ficava babando (rs) ! Quando comecei a gravar meu disco, falei “Rubel, fiz uma música e quero que cante comigo!”, e ele topou na hora! Fomos pro estúdio, passamos o dia todo lá gravando e saiu esta parceria linda! O mais legal é que a história da música dialoga totalmente com seu disco novo, o Casas.
Quais seus próximos passos? Tem planos de vir tocar em São Paulo?
Quero me jogar na música, estar mais em São Paulo, trocar mais com artistas do mundo todo. O feedback que tenho recebido é muito positivo, tanto sobre o disco, quanto sobre o show que é bem enérgico! Tô sentindo que as conexões só tendem a aumentar!
Última pergunta: se pudesse mostrar o ‘Liberte Esse Banzo’ para qualquer musicista poderosa do mundo, para quem seria
Ahhhh, queria muito que a Esperanza Spalding me ouvisse! Tem algumas faixas do disco que tem inspiração na música que ela faz, e eu sou apaixonada pelo som dela!
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Pra fechar fiquem com essa mixtape que tem a Lu, a Esperanza e mais 100 mulheres poderosas & inspiradoras. No mais, libertem esse banzo ?