Playlist reúne versões de músicas de 1967 por bandas do underground BR.
No ano passado o Cansei do Mainstream, em parceria com o Pacóvios e o Macrocefalia Musical, organizou um tributo ao ano de 1967 que contou com participação de 46 bandas do underground imprimindo sua personalidade em versões de músicas lançadas naquele icônico ano. A playlist “2017, O Verão do Amor” acabou indo parar na página do Spotify e traz uma versão compacta do tributo:
A efervescência cultural beirou o inimaginável durante aquele summer of love eterno de 1967, evidenciando a Bay Area de São Francisco como epicentro da produção psicodélica, aqui muito bem representada pela esquizofrenia sonora e avant-gardismo do Captain Beeeart reproduzidas pelo The Ash Tre em “Electricity”; pela dose dupla de Jefferson Airplane na lisérgica “White Rabbit” da Cigana e na roupagem pop que a &Caiman deu para “Somebody To Love”; e também pelas distorções de guitarras dos Britônicos em “Purple Haze”, primeiro êxito internacional da The Jimi Hendrix Experience.
Há algumas milhas dali, em Nova York, o movimento proto-punk ganhava força – trazendo menos flores e mais seringas, diga-se de passagem, e tendo o Velvet Underground como grande representante, aqui homenageado em dose quádrupla: com um pézinho no folk na intimista “Venus In Furs” da Antiprisma, com a lo-fi “Femme Fatale” da Early Morning Sky, com a visceral “Heroin” da Color For Shane e com a sutileza de “Sunday Morning” da Pin Ups. Uma bela de uma surra aveludada heim!
Ainda em NYC, antes de virar berço do hip-hop, as garagens do Bronx fervilhavam de experimentações, e foi de uma delas que saiu a fritação dos teclados dos Blues Magoos, muito bem recriada pelos Os Estilhaços em “Pipe Dream”.
Pertinho dali, na cidade de Rochester, a Soul Brothers Six concebia seu grande hit “Some Kind of Wonderful”, que aqui ganhou uma versão menos R&B porém tão elegante quanto a original pelas mãos do power duo Dum Brothers.
Descendo um pouco temos o curso da história da música brasileira prestes a mudar completamente com a tropicália dando seus primeiros sinais de vida. No entanto, a MPB de Chico Buarque foi a escolha de Léo Fazio, que deu uma repaginada na versão voz e violão de “Um Chorinho”. As raízes afro-brasileiras do “Canto de Xangô” de Baden Powell também foram relembradas pela ótima versão instrumental dos 3Cruzeiros.
A gente nem precisa atravessar o oceano para falar das bandas inglesas, já que a invasão britânica já se alastrava pelo mundo. As estrelinhas aqui foram os Rolling Stones, também duplamente representados pela vibe folk do Roger Alex feat. Vitreaux em “2000 Man”, e pela intergaláctica “2000 Years From Home” (qualé a desse número 2000 heim?) da Leela feat. Fausto Fawcett que aproveitou a ocasião para homenagear a musa Anita Pallenberg.
Por fim, a explosão de cores vibrantes que reverbera até hoje fica bem impressa no fuzz dos Beach Combers e sua versão de “I Can See For Miles” do The Who. Como diria um amigo: que swing, minhas jóias.