Comentado por Peter Martin do Old Rope.
1968 foi o ano em que a vibe peace & love construída no decorrer da década de 60 passou a dar sinais de desgaste. Com um verão que trouxe mais sutiãs (figuradamente) queimados do que flores, o ano foi marcado por protestos, revoluções, assassinatos e guerra.
Musicalmente, porém, 68 foi tão produtivo quanto seu antecessor – o que ficará bem claro no passeio 1968 EM 50 DISCOS que hoje tem meu amigo Peter Martin do blog inglês Old Rope trazendo o aniversariante do dia & amor da minha vida ‘Odessey and Oracle’, segura aí:
Álbum: ‘Odessey and Oracle’
Artista: The Zombies
Gravadora: CBS
País: Inglaterra
Lançamento: 19 de Abril de 1968
por Peter Martin / tradução por Joyce Guillarducci
Odessey and Oracle é uma obra-prima do pop psicodélico que rivaliza com qualquer outra da época. O tempo é algo importante na música (ortografia nem tanto, já que o título contém um erro de digitação) e para os Zombies ficar em sincronia nunca foi fácil. Gravado em 1967, no auge do verão do amor, o disco só seria lançado um ano depois. Assim, ele parece lento demais e não acompanha o passo da revolução psicodélica que rolava na música de 68.
Ouça as faixas ‘Friends of Mine’ e ‘Beechwood Park’ na nossa coletânea O Verão do Amor:
As coisas haviam começado bem para eles. Depois de conseguir alguns hits no Reino Unido e EUA, a banda da segunda onda da invasão britânica deveria ter seu sucesso consolidado. Seu primeiro álbum, ‘Begin Here’ (1965), não os levou para o patamar dos Stones ou dos Kinks, mas com um segundo álbum viria uma segunda chance e o tempo estava a favor da banda. O disco foi gravado nos estúdios da Abbey Road, logo após os Beatles terminarem os últimos retoques do Sgt. Pepper. Lá, os engenheiros da EMI haviam ajudado a ultrapassar os limites do que era tecnicamente possível e estavam dispostos a fazer com que o Odessey and Oracle ficasse incrível.
Eles não falharam. Este LP ainda soa fabuloso e melhor produzido do que muitos discos famosos da época. Ao contrário de muitos dos seus contemporâneos e apesar de suas raízes R&B, o som dos Zombies nunca se baseou em guitarras e no decorrer das 12 faixas deste disco nota-se que piano e órgão são o centro das atenções – hora soando ousados e estridentes, hora melancólicos e desamparados. O álbum está recheado de harmonias, baixo melódico, uma bateria temperamental e o infame melotron (uma espécie de antecessor do sintetizador).
Certamente com uma música tão maravilhosa os Zombies se tornaria superstars. Infelizmente não era pra ser. Depois que os singles ‘Care of Cell 44′ e ‘Friends of Mine’ falharam nos charts ingleses, a banda se desfez e a gravadora arquivou o álbum, que acabou sendo um fracasso de lançamento em 1968.
E daí que em 1969, a psique sinistra da última faixa do álbum ‘Time Of The Season’ se tornou um hit e chegou no topo das paradas americanas. Desde então Odessey and Oracle tem gradualmente e merecidamente ganhado reconhecimento como uma das melhores obras de sua geração e um dos melhores discos psicodélicos de todos os tempos.