Trio americano se prepara para trazer seu heavy blues para terras brasileiras. Saiba mais sobre a turnê “New Beginnings” + entrevista.
Amantes de psicodelias, heavy blueseiras & afins preparem-se: direto de Iowa, o power trio Radio Moscow vem aí! De cordas e baquetas afiadíssimas, Parker Griggs (guitarra/vocais), Anthony Meier (baixo) e Paul Marrone (bateria) chegam no final do mês trazendo novidades do “New Beginnings” (2017-Century Media), quinto disco dos americanos que está sendo lançado por aqui pela Abraxas.
De química absurda e temperadasso de guitarras à la Hendrix, as 10 faixas desse disco veem apresentar o primeiro trabalho da banda fora da Alive Naturalsound Records, gravadora onde estiveram por 10 anos – ouvindo o “New Beginnings” percebe-se que o frontman e membro fundador Parker & tchurma aprenderam muito bem a trilhar seu caminho mesmo sem a tutela de Dan Auerbach (Black Keys), que havia produzido-os lá no comecinho da carreira. Ouvi dizer, no entanto, que o negócio pega mesmo é ao vivo, então já deixei o dia 29 de Março bem reservadinho pra vê-los aqui em São Paulo junto com Quarto Ácido e Aura – mais infos no evento, ali embaixo também tem cartaz com as datas das demais cidades por onde o trio passará.
Conversei com o baterista Paul Marrone sobre novidades desse disco, faixas favoritas, roubo de músicas do passado e outras coisinhas (que podem ou não incluir menções a substâncias psicotrópicas). Confiram nosso papo aqui:
“New Beginnings” é o primeiro trabalho da banda com a Century Media Records. Qual característica dele vocês diriam que é totalmente diferente dos seus álbuns anteriores?
Paul Marrone: Bem, tem muita coisa nova nesse álbum, mas vou citar 3 destaques: Primeiro, para mim, ele tem um som mais obscuro e mais pesado, muitas das canções têm uma abordagem mais progressiva e experimental, mantendo a linha do heavy blues psicodélico que é a marca da Radio Moscow. Em segundo lugar, a maior parte das composições é do Parker, assim como nos trabalhos anteriores, mas o disco traz também colaborações de nós 3 em conjunto e inclui uma música que eu escrevi: “No One Know’s Where They’ve Been”. Para o ouvinte isso talvez não fique muito visível, mas para nós é algo novo que temos curtido muito. Por último, acredito que este seja o primeiro disco da Radio Moscow a apresentar guitarra de 12 cordas e piano elétrico.
Ouça o New Beginnings:
“No One Know’s Where They’ve Been” é provavelmente minha faixa favorita do álbum, adoro a pegada da guitarra e tudo mais. Conte-nos sobre o processo de criação dela.
Paul Marrone: Essa faixa é na verdade uma música que escrevi há uma década atrás. Foi anteriormente lançada pela minha antiga banda CosmicWheels. Precisávamos de uma música para o álbum e o Parker sugeriu que a utilizássemos. Quanto à composição, na época me inspirei em muitas coisas obscuras do heavy rock britânico – do final dos anos 60 ao início dos 70, como Samuel Prody, Elias Hulk, Writing on the Wall etc. Eu simplesmente adoro a forma como eles mantém três riffs principais em sucessão para a introdução, verso e coro, e daí DO NADA, de forma pouco ortodoxa, explodem numa jam mais obscura. Às vezes isso funciona, e às vezes simplesmente não faz sentido. Tentei estruturar a jam no meio da música, mantendo a bateria e o baixo num ritmo mais estável, e deixando que a guitarra fosse responsável por todas as acrobacias, ao invés de deixar todos os instrumentos brigando para serem ouvidos, o que geralmente acaba acontecendo em jams. Dessa forma o som fica mais limpo, não perde o ritmo nem fica longo demais. Também rolaram uns truques de estúdio, como o uso de uma fita ao contrário pra criar aquele efeito reverso e de phaser que ficaram bem legais. Ficamos orgulhosos com o resultado e fico feliz em saber que é uma de suas favoritas do disco.
Pra quem quiser ouvir essa versão original com a CosmicWheels:
Também curti a vibe lisérgica de “Woodrose Morning”. De onde veio a inspiração para ela?
Paul Marrone: Esta música foi muito inspirada no leste, e acho que se você conhece o efeito das sementes de Woodrose… a música fará muito mais sentido. Ha.
adendo pra quem também ficou boiando: as tais sementes da música contêm uma triptamina natural com o nome de Amida de Acido Lisérgico (LSA), quimicamente relacionada com o LSD ⚛️
Vocês estiveram na Europa e tocaram bastante nos EUA desde o lançamento do novo álbum. Alguma história interessante de turnê que vocês gostariam de compartilhar?
Paul Marrone: para ser honesto não consigo pensar em nada recente, mas tenho uma história de turnê que pode ser relevante já que nos preparamos para visitar a América do Sul … Fizemos um show em Buenos Aires e tínhamos que pegar um voo para Córdoba onde seria o próximo show. Não tenho certeza do que aconteceu, mas adormecemos no aeroporto por algumas horas e perdemos o voo, daí achamos que teríamos que cancelar o show. De repente, nosso agente de reservas da Argentina nos levou para um táxi, que dirigiu por 8 horas e meia para um show esgotado em Córdoba. O motorista era super gente boa e acabou sendo nosso roadie e cuidando do merch naquela noite, e acabou indo pro after com a gente depois, foi muito divertido. Basicamente, todo o dinheiro que fizemos naquela noite foi pra pagar essa corrida de táxi. Não sei se é uma boa história, mas achamos muito divertida.
Confira as datas da turnê sulamericana:
Última pergunta: vocês são frequentemente comparados a bandas dos anos 60 e 70. Assim, se você pudesse voltar no tempo e roubar uma música dessas décadas pra chamar de sua, qual seria?
Paul Marrone: Essa é uma pergunta muito difícil e a resposta para ela mudaria constantemente… eu poderia ficar nisso para sempre, então vou mencionar as 5 primeiras que me veem à cabeça: “Why Not” e “Wreck” da Gentle Giant (1970-1971), “No More White Horses” da T2 (1970), “Uomini di Vento” da Procession (1974) e “Eat that Question” do Frank Zappa (1972).
Por aqui ficamos com esses 6 minutinhos de esquizofrenia zappiana porque relembrar é viver (e relembrar Zappa é viver loucamente):