Geração Bit e divagações sócio-políticas são temas da estreia solo do Molodoy. Ouça “Três por 1 Real” + Entrevista.
A galera da internet que acompanha o blog já deve ter visto/ouvido esse rapazito que muito lembra o vocalista da Temples por aqui. Leonardo Fazio é o cantor, compositor e multi-instrumentista que lidera os vocais roucos da banda paulista Molodoys, com a qual lançou no ano passado o álbum de estreia ‘Tropicaos’.
Ouça ‘Tropicaos’ aqui:
Paralelamente à banda, que também vem produzindo uns videoclipes bem delirantes e agora prepara o segundo disco, Leo tem trabalhado num projeto solo que deu as caras ao mundo na semana passada com o lançamento do álbum “Três Por 1 Real”.
Percorrendo seis faixas autorais e uma versão da canção “Um Chorinho” de Chico Buarque, ele vai brincando com texturas sonoras enquanto aborda temas sociais e políticos que fazem alusão ao momento tecnológico e “geração Bit”, abrem espaço para divagações que vão do cotidiano no transporte público à memórias de crimes da ditadura, e resultam num disco super experimental e vanguardista.
Conversei com o Leo sobre esse novo trabalho, confiram nosso papo aqui:
Lembro que numa ocasião você me contou que estava compondo coisas novas que fariam parte da “geração bit” e acredito que o “Três por 1 Real” seja o primeiro representante desse movimento, certo? Conte mais sobre isso.
Hahahah Na verdade não sei se chega a ser uma “geração’ Bit, mas tá rolando um manifesto que logo vai dar as caras ao mundo, não queria dar muitos detalhes agora porque estamos trabalhando nisso e ainda acertando as ideias. Mas acho que sim, esse álbum é pelo menos uma introdução a isso, um pouco nas letras, mas creio que mais na forma como foi feito, na questão da liberdade, do fluxo de criação e etc… Eu queria muito testar algumas coisas, experimentar caminhos diferentes poeticamente e musicalmente, então o plano era fazer algo bem solto e ver no que dava, antes de começar a gravar eu não fazia ideia do que ia sair (obrigado do fundo do coração ao Lucas Cyrne por ter aberto as portas do seu porão/quarto pra eu fazer essa doidera). Eu tinha composto só “Suspiro Número 9″ e “Tietê”, as outras foram nascendo conforme eu gravava, na hora e no fluxo mesmo, o quê tá lá no disco é registro do nascimento delas, de certa forma o lance do manifesto Bit fala um pouco dessa liberdade na questão artística, bem inspirado no movimento surrealista e no Beat (isso é meio óbvio né hahahah), mas também estamos nos baseando no manifesto Cyborg e em outros movimentos de vanguarda (antigos e modernos).
Curti o toque de brasilidade obtido pela presença da cuíca por diversas faixas. Qual foi sua intenção ao incluí-la?
Na verdade eu comprei a cuíca pro segundo disco da Molodoys, mas eu tava tão maravilhado com ela que quis testar imediatamente hahahah, mas não tive intenção nenhuma eu acho, só gosto muito do som e das possibilidades que ela traz, eu gosto de experimentar e misturar as coisas, ver no que dá, e deu nisso aí!
O verso que dá nome ao álbum saiu da faixa “Suspiro Número 9” (minha favorita), que é uma crítica social em diversos sentidos. Conte-nos sobre as inspirações para ela.
Eu não sei se o verso deu nome ao álbum ou se o nome do álbum caiu no verso (não lembro mesmo). Mas essa música é mais uma tiração de sarro do que uma “crítica social foda” hahaha eu queria fazer algo mais engraçado, cotidiano, e também brincar com os sentidos e etc, isso era o que eu tinha em mente antes de cria-la, eu só queria fazer uma música assim e o resto veio no fluxo mesmo, eu só fui ajeitando um pouco aqui e um pouco ali na letra.
A versão de “Um Chorinho” de Chico Buarque também está presente na nossa coletânea O Verão do Amor. A decisão de incluí-la no álbum veio antes ou depois da coletânea?
Bem pontuado, “Um Chorinho” tá na coletânea e no álbum, se eu não me engano a decisão veio depois de você me chamar pra gravar um som pra coletânea, eu tava no porão do Cyrne nesse momento e comecei a pensar que som eu podia gravar, mas na hora que tu me chamou eu já tive a ideia de colocar o som no álbum, por isso escolhi uma do velho Chico, que tem feito minha cabeça ultimamente (outra opção era uma do King Krule, mas achei melhor uma em português mesmo, o desafio era maior hihihi).
Ouça a coletânea ‘O Verão do Amor’ aqui:
Fechando o álbum temos a epifania sonora de “Data”, que para mim soa como uma música que poderia ter sido criada por um programa de computador por exemplo. Qual o significado dessa faixa pra você?
Agora a gente volta na primeira pergunta, o disco abre com a música chamada “Bit” – que como eu disse é uma introdução a esse rolé todo que eu falei – e fecha com “Data”, que é outra tiração de sarro, se opondo ao Bit nos temos o Data, algo inspirado no movimento Dada/Dadaista, então Data é como se fosse uma releitura pós-moderna desse movimento, algo bem sem nexo mesmo hahahha Achei genial tu ter falado que é um som que poderia ter sido criado por um computador, porque é bem por esse caminho, nem sei se tem muito mais o que explicar, acho que ouvindo dá pra sacar melhor o que eu quero dizer hahaha.
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E então, curiosos sobre o que o Leo anda aprontando? Pois fiquem de olho no que vem por aí e não deixem de conferir o “Três por 1 Real”, garanto que é uma das coisas mais loucas que vocês ouvirão esse ano.