Comentado por Debbie Hell do Ouvindo Antes de Morrer.
O ano de 1967 foi um dos mais significativos para a música mundial. A ascensão hippie, the summer of love e a consagração da psicodelia foram pontos cruciais no curso da história do rock’n roll, da música pop, country, folk, soul e do acid rock. E como eu amo os anos 60, não poderia deixar de prestigiar o meio século desse ano tão importante. Para isso, criei a coluna 1967 EM 50 DISCOS, onde semanalmente comentaremos álbuns lançados nesse ano.
Hoje a coluna tem convidada especialíssima: a queridona diva embaixagata Debbie Hell contando um pouco sobre sua relação com o ‘Flowers’ dos Stones. Vai lá Hell!
Álbum: ‘Flowers’
Gravadora: London (EUA) / ABKCO (UK)
Artista: The Rolling Stones
Lançamento: 26 de Junho de 1967
por Debbie Hell
As únicas Flowers possíveis de 1967
The Rolling Stones made me do it
2010 foi o tipo de ano que eu não entendi até agora como sobrevivi. Se 1967 foi o Verão do Amor, aqueles dias em que eu acabara de completar 25 anos, saído de uma dessas relações Sid & Nancy 2.0, acabado de começar em um emprego numa área totalmente nova e até então meio assustadora, e estava solteira pela primeira vez desde a adolescência, foi definitivamente o Outono/Inverno do Caos Recreativo.
Estava naquele processo de digerir tudo que tinha acontecido, sobreviver ` a porcaria da dor da separação tal qual a adulta que eu não era, e -principalmente- me reconstruir já que era impossível voltar a ser quem era antes. E geralmente passamos por esse processo da forma mais razoável e saudável possível: bebendo e vomitando por aí.
Nessas, achei de bom tom me autodestruir em ambientes novos e anônimos (nessa época já discotecava bastante e sempre esbarrava em amigos toda hora pela noite).
Foi então que comecei a me aventurar irresponsavelmente e frequentar outros círculos e festas. Numa dessas, estávamos na casa de alguém que maltratava demais sua coleção de vinis. Bem quando estava começando a minha própria e pagando horrores em cada um. Foi quando dei de cara com o Flowers, dos Stones (1967), não me contive e puxei da coleção para dar uma ~olhadinha. Esse disco, apesar de ser considerado quase bobinho para uma banda malvadinha como os Stones, sempre foi serious shit para mim por diversos motivos.
A levada dançante de “Have you seen your mother, baby, standing in the shadow” tinha me conquistado de primeira. Me deixava enganar com a doçura da versão de “My Girl” e amava o cinismo de “Mother’s little helper”. Mas era com “Let’s spend the night together” que meu corpo chegava a estremecer nos primeiros acordes. E sim, bem melhor que a versão do Bowie. Com o agravante de que eu ainda tinha um histórico emocional com essa música não superado até então.
”Ai, ótimo, isso deve servir”, disse alguém tirando o disco da minha mão pra fazer sei lá o quê (vcs sabem o q). E eu querendo MORRER só de ver os dedos engordurados pegando o vinil de qualquer jeito, sendo cada vez mais mal tratado.
Aquela época foi também um tempo em que além do bom senso e paciência, me desprendi da etiqueta. Não me importava mais em dar tchau, ser polida, ou me desgastar minimamente com pessoas que eu provavelmente nunca mais veria (se Deus quisesse). Foi nesse ano em que fiquei especialista em sair fugida dos lugares (de fininho é um eufemismo que não cabe aqui).
Foi então quando eu já estava com o saco bem cheio e todo mundo meio jogado, decidi que era a hora de pegar minhas coisas e desaparecer e, enquanto executava minha fuga vi ele lá, jogado, sozinho, maltratado, pedindo por um resgate. E sim, levei o disco comigo.
Foi uma atitude correta? É relativo. Sei que em algumas civilizações você pode perder a mão por isso, etc. Me orgulho? Não tanto porque já fiz coisas piores. Faria de novo? Não só faria como levaria mais discos. Esse relato é verdadeiro? Olha bem pra minha cara