Trio desembarca em São Paulo e comenta todas as faixas do EP ‘TMJNT’, confira aqui.
Foto: Luana Chinazzo Muller
De vez em quando surge um disco que pega a gente de um jeito especial. Quando ouvi o ‘TMJNT’, segundo EP do trio gaúcho Supervão que saiu no mês passado pela Lezma Records e Honey Bomb Records, tive aquela sensação de que 100 mil pessoas gritavam “uop” ao mesmo tempo dentro da minha cabeça, rs.
Piadas de Douglas Adams a parte, curti muito a inovação e todo o conceito de união que envolve esse EP. Começando pelo nome (“tamo junto”), passando pela capa, que foi escolhida através de votação popular – aliás eu super votei e fiquei muito feliz ao saber que meu design favorito foi o vencedor; até chegar na mistureba generalizada (ó o Adams aí de novo) de technopunk, neu tropicalia, pós-punk, dream pop, vapor rave e indie rock de suas cinco faixas, e que fazem do ‘TMJNT’ um dos mais vanguardistas e melhores discos que ouvi recentemente.
Sendo assim, decidi pedir para o Mario Arruda, o Leonardo Serafini e o Ricardo Giacomoni comentarem TODAS as faixas dele, confiram nosso papo aqui:
‘Reunião’ é minha faixa favorita do EP e acho que ela sintetiza bem uma ilustração que vi de vocês que unia a RAVE ao INDIE BRASIL. Sinto que vocês já vinham trabalhando essas sonoridades híbridas desde o ‘Lua Degradê’. De onde saiu esse conceito?
Total, acho que Reunião tem bem essa pilha de união da música eletrônica à música independente brasileira. No primeiro EP já tentávamos isso, sim, mas em TMJNT focamos mais em sons de pista mesmo. Isso decorre muito de todo rolê que demos por várias casas de shows e festas, bem como pelos festivais. Além disso, nas festas que organizamos em Porto Alegre sempre juntamos muito a cultura de pista com a cultura de shows. Isso é muito por estarmos enxergando esses dois movimentos acontecendo com muita força no Brasil, ainda que estejam acontecendo bastante separados. São raros os momentos ainda em que as bandas e os dj’s de raves tem se juntado. A letra também é bastante influenciada nas músicas da Ava Rocha.
‘Tempo Barravento’ me soa como a faixa mais refinada do EP. Nos contem como foi o processo de criação dela.
Tempo Barravento mudou muito ao longo do processo. Assim como todas as músicas, acho… É porque fomos criando as músicas nos shows. Cada vez que íamos tocar, mudávamos alguma coisa de acordo com a resposta do pessoal. Mas Tempo Barravento foi talvez a mudança mais radical durante o processo, ela começou até com mais linhas de beat de trap e o vocal também tinha essas referências. Mas ela foi se transformando cada vez mais em um pós-punk, cada vez mais uma vibe etérea, que busca algum tipo de alívio para a situação contemporânea que vivemos. Nela tivemos a intenção de produzir uma espécie de respiro: a temática de vento e chuva do EP é uma tentativa de pensarmos a passagem, a transformação e os fluxos. Sinceramente, eu fico bastante sensibilizado com todas essas dicotomias políticas contemporâneas, mas ao mesmo tempo não temos como fugir delas.
‘Agradeço Ao Povo Brasileiro’ é a faixa mais desconstruída do EP e parece ter lá seu cunho político. Qual o significado dela pra vocês?
A política do EP está em uma ideia de juntar pessoas, aquelas que estão separadas no momento devido às dicotomias estéticas e políticas. A reunião de pessoas é um ato bastante revolucionário hoje, já que estamos sendo separados até mesmo por algoritmos, que criam as bolhas de interação da internet. Agradeço ao povo brasileiro tem a intenção de perguntar “o que você deseja?”… De proporcionar uma reflexão nas pessoas sobre o que as fazem querer o que querem. “Show me from behind the wall”, frase do Caetano, acho que serve muito bem para fazer pensar sobre o que está além das nossas bolhas. Mas ao mesmo tempo, Agradeço é uma música de força: quando citamos Belchior “ano passado eu morri, mas esse ano eu não morro” é com a ideia de que daqui pra frente a gente possa olhar também as coisas boas que estão acontecendo. Tipo essa cena musical toda que a gente tem vivido, isso é o que dá alegria de viver pra nós hoje em dia.
Gosto bastante das camadas sonoras de ‘VMDL’ e da montagem de imagens do videoclipe, que veio anunciar a estética adotada pela banda nessa nova fase. Nos falem um pouco sobre a arte criada pelo Mario em parceria com a Ana Paula da Cunha.
A Ana Paula tem um trabalho que utiliza bastante rosa como uma ideia de força feminina, ou seja, é uma desconstrução por dentro do próprio estereótipo. Inclusive ela vai pra SP com a gente e está levando junto uma publicação que evidencia bastante isso, através da desconstrução de gênero. Para a Supervão, a questão de gênero é bastante importante. Sabemos o quanto tanto a música eletrônica quanto a cena independente ainda tem maioria de homens tocando. E por isso mesmo a gente tem se juntado cada vez mais com coletivos e bandas de mulheres e trans. Em São Paulo mesmo vamos tocar com a Musa Híbrida e com a Mona e Outros Mares, vai ser lindo.
O resultado da arte da capa e do vídeo de VMDL é uma suavidade que aconteceu naturalmente. Procuramos evidenciar tanto as tensões dicotômicas quanto a suavidade de transcender elas.
Assista ‘VMDL’ aqui:
‘Crise Civil’ me fez pensar em primeiros trabalhos do MGMT – alguns traços do ‘Oracular Spetacula’ talvez. Vocês diriam que eles são uma infuência?
Que massa isso! Gostamos do MGMT, sim. Tem um pessoal que diz que lembra, gostamos disso. E você vê, essa bateria é um sample do LCD Soundsystem. então tem um monte de referências indie ali. Mas também tem um monte de tambores sampleados, coisa que nos referenciamos no mangue beat, na Nação Zumbi, e também no Teto Preto aí de São Paulo.
Última pergunta: qual horário e local vocês recomendariam para uma audição ideal do TMJNT?
No aquece pra baladinha, ali por volta das 21h no apartamento cheio ou na festa em qualquer horário. Acho que o legal de ouvir na festa é que aí os graves ficam no talo e dá aquela baixada na pressão hahah.
Ouça TMJNT aqui:Se eu fosse recomendar uma audição do TMJNT sabe onde seria? Ao vivo essa semana em São Paulo, aproveitando que os meninos estão chegando aí. Então confere as datas que a partir de amanhã já tem show! Nos vemos por lá #VMDL