Ouça aqui a cozinha sessentista da banda californiana + Entrevista.
Daí você sai do PicniK mas o PicniK demooora pra sair de você. Conheci a banda liderada por Matt Adams no festival lá em Brasília e desde então a mistura folk-rock-surf-psych-soul-pop da The Blank Tapes não saiu mais dos meus radinhos virtuais. Ainda bem que material deles é o que não falta.
Na estrada desde 2003, a banda já tem uma boa dúzia de discos lançados. Com Matt à frente das composições e de grande parte dos instrumentos nas gravações, a música da The Blank Tapes passeia por diferentes estilos e décadas musicais, mas sempre me remete à um despretencioso rock sessentista que agrada em qualquer ocasião. E não pensem vocês que os talentos de Matt se limitam à música: ele também é o responsável por toda a identidade visual da banda, das artes dos álbuns, passando pelas estampas das camisetas e chegando até num zine da banda, é tudo criação do californiano. É ou não é um artista completo?
Para essa turnê no Brasil, que foi organizada pela Honey Bomb Records, Matt contou com a companhia da multi-instrumentista americana Veronica Bianqui, do baixista brasileiro Marco Antônio Gallo, e de um baterista que eu não sei nome, nacionalidade e nem cor favorita – mas vou descobrir tudo, prometo. Depois do festival em Brasília, a banda ainda passou por Goiânia, fez uma apresentação surpresa em Uberaba, e chegou em São Paulo para o último show da turnê Brasil 2017. Reencontrei a banda por aqui no último dia deles no país, e acompanhei-os à uma loja de instrumentos de percussão ali na Teodoro, pois eles planejavam levar brasilidades musicais de volta pra casa. A visita à loja foi bem divertida e instrutiva – conheci uns instrumentos que nunca havia ouvido falar, como a kalimba por exemplo.
Com a Veronica e o Matt devidamente equipados de cuicas, panderos e kazoos, fomos bater um papo sobre o último EP da banda, influências, e impressões sobre o festival PicniK, confiram tudo aqui:
Matt, sua música tem um pouco de tudo – de folk à surf music, passando pelo pop e pitadas de psicodelia. Quais são suas maiores influências musicais?
Minhas maiores influências são as bandas dos anos 60. The Beatles, The Kinks, Creedence Clearwater Revival, Velvet Underground, Jimi Hendrix, Led Zeppelin, Rolling Stones, Leonard Cohen. Algumas dos anos 70 também, como The Clash e David Bowie, e de coisas atuais acho que Beck.
Você acabou de lançar o EP ‘Wobbly Rock’, ouvi recentemente e achei bem trippy. E eu tenho uma música favorita dele, a faixa final ‘Ride The Tide’, curti bastante aquele solo de guitarra, é bem poderoso. Conte-nos como foi a composição dela.
A faixa que está no EP é na verdade uma segunda versão dessa música, a primeira está num outro álbum chamado ‘Slow Easy Death’, e ela originalmente foi composta para um filme sobre surf. Um amigo me pediu para ajudar na trilha sonora e eu entreguei algumas composições à ele, ‘Ride The Ride’ era uma delas e achei que inha ficado muito boa, então decidi escrever uma letra e criei a primeira versão, que tinha um curto solo de guitarra. Quando começamos à tocá-la nos shows, comecei a estender o solo cada vez mais e de repente ela estava com oito minutos de duração. Gosto de ter estes solos mais longos na gravação também pois acho que eles representam a experiência da música ao vivo.
E você tem alguma faixa favorita do EP?
Gosto da atmosfera relax de ‘Rockstar City’, e de ‘Wobbly Rock’, que é sobre a festa de casamento de um amigo meu. Essas duas e ‘Early Bird’ são minhas favoritas.
Também gosto da atmosfera de “desbalanço’ do Wobbly Rock, já que as faixas trazem sonoridades bem diferentes entre si. Li que elas foram gravadas em diferentes anos e estúdios. Gostaria de saber como foi o processo de criação desse EP e como foi a escolha dessas músicas em particular.
Gravei muita coisa junto com o ‘Ojos Rojos’, e esse EP é meio que um coleção de sobras dele. Não teve nenhum tipo de conceito por trás, eu só queria colocar essas músicas juntas em algum lugar. E se você fizer download do ‘Wobbly Rock’ vai descobrir que na verdade ele tem sete faixas (tem uma faixa escondida).
Na dúida, ouçam o ‘Wobbly Rock’ na íntegra (sem a faixa secreta no entanto):Também curti a arte da capa de ‘Wobbly Rock’. Você é o responsável pelas artes de seus discos, certo? Tem alguma favorita?
Acho que a do álbum ‘Vacation’. Gosto dessa e da capa do ‘Ojos Rojos’, apesar de serem bem diferentes. Me orgulho muito do trabalho de colagem que fiz nesse segundo, porque não faço muito e achei que ficou bem legal. Mas a arte do ‘Vacation’, que é um cartoon de um cara sendo pego por uma onda, vem de algo que tenho desenhado desde que era criança, então ela é mais especial porque tem esse valor sentimental.
Acho que a capa de ‘Vacation’ é mais divertida mesmo. A música, porém, é boa em ambos:
E então, vocês tocaram no festival PicniK! Foi seu primeiro festival no Brasil?
Não foi o primeiro, mas foi o melhor. Da primeira vez que estivemos aqui, em 2010, tocamos no Festival da Montanha, que nossos amigos da Copacabana Café ajudaram na organização. Foi numa cidade pequena, algumas centenas de pessoas, foi bem legal. Mas o PicniK definitivamente foi o melhor.
E teve algo no PicniK que foi muito diferente dos festivais americanos por exemplo?
Uma coisa é que ele era gratuito, o que achei bem legal. E acho que tinha muito mais coisas fora a música. Muita comida, as ferinhas. Achei muito bom, muita diversidade além da música. Nos festivais geralmente a música é o principal e as outras coisas são meio coadjuvantes. No Picnik fica meio que de igual pra igual.
Durante essa turnê vocês fizeram mais uns 10 shows, qual foi o mais especial?
Diria que foi o PicniK mesmo, esse foi o melhor. E fora esse, Curitiba foi muito bom, o primeiro show em São Paulo na Trackers e em Limeira também. E teve o show surpresa que fizemos em Uberaba que foi bem divertido.
Algo engraçado aconteceu em algum deles?
Acho que nada de muito louco durante os shows, mas durante o passeio na Chapada dos Veadeiros, estávamos em cinco pessoas, e daí um grupo de cinco cachorros se aproximou de nós. Eles começaram a nos seguir, e é engraçado porque era um cachorro por pessoa e eles passaram a nos seguir por todo canto. Depois perderam o interesse e simplesmente foram embora.
Quais novas bandas você tem ouvido? Alguma brasileira em especial?
Do Brasil gosto de Boogarins. Não consigo lembrar os nomes, mas tem muitas outras boas, no festival mesmo teve várias que eu curti. E de fora eu gosto de Sonny & The Sunsets, de São Francisco. Ah, e Veronica Bianqui.
Vamos de indicações do Matt né:
Últimas palavras para seus fãs brasileiros?
Amo o Brasil, sua cultura, culinária e música. Espero voltar em breve.
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Também esperamos Matt! Enquanto isso, ficamos com o videoclipe de ‘LA Baby’ que tem gostinho de Califórnia: