Comentado por Joyce Guillarducci.
O ano de 1967 foi um dos mais significativos para a música mundial. A ascensão hippie, the summer of love e a consagração da psicodelia foram pontos cruciais no curso da história do rock’n roll, da música pop, country, folk, soul e do acid rock. E como eu amo os anos 60, não poderia deixar de prestigiar o meio século desse ano tão importante. Para isso, criei a coluna 1967 EM 50 DISCOS, onde semanalmente comentaremos álbuns desse ano tão icônico. Pra começar, escolhi o ‘Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band’, um dos discos mais enigmáticos e mais vendidos de todos os tempos, e que permaneceu em 1º lugar nas paradas britânicas por 27 semanas. I hope you will enjoy the show!
Álbum: ‘Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band’
Gravadora: Parlophone
Artista: The Beatles
Lançamento: 1 de junho de 1967
por Joyce Guillarducci
Em meados de 1966, após o lançamento de seu sétimo álbum de estúdio e tendo finalizado uma exaustiva turnê pelos EUA e Canadá – que seria a última da carreira da banda, os Beatles decidiram tirar alguns meses de férias dos palcos e gravações. Sir Paul McCartney embarcou então em uma viagem que passou pela França, Espanha e acabou num safari no Quênia. Durante o voo de volta para Londres em Novembro de 66, já pensando no próximo trabalho do quarteto, Paul decidiu que os Beatles estavam cansados de serem eles mesmos e que precisavam se reinventar. Nasceu assim a ideia da banda do Sargento Pimenta, e que culminou no primeiro álbum conceitual da história, considerado por muitos o melhor disco já gravado: the only and lonely ‘Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band’.
O nome ‘Sgt Pepper’ surgiu quando Paul e Mal Evans, empresário de turnês e amigo pessoal dos Beatles, brincavam com as palavras impressas em saquinhos de sal e pimenta (Salt ‘n Pepper). Já o ‘Lonely Hearts Club Band’ era um lugar real em Liverpool, frequentado por pessoas solitárias em busca de companhia. O clube ficava localizado na Penny Lane, rua por onde Paul passava de ônibus todos os dias nos tempos da escola, e que durante as gravações do álbum ganhou aquela música linda dedicada à ela. Por pressão da gravadora, a faixa ficou de fora do Sgt Peppers e só foi aparecer no ‘Magical Mystery Tour’.
Durante a concepção do álbum, os Beatles queriam que tudo parecesse diferente de todo o resto que eles já haviam criado, afinal esse era um disco da banda do Sargento Pimenta, e não dos quatro moptops de Liverpool. Tudo tinha que ser novo, incluindo equipamento e técnicas de gravação. Assim, o ‘Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band’ foi pioneiro no uso de gravação multicanal e em métodos de produção com processamento digital de sinal, além de ser o primeiro álbum de música pop a eliminar aquele gap entre as faixas – ouvindo o álbum continuamente tem-se a impressão de que é uma grande faixa ininterrupta.
Abraçando as novas personalidades como integrantes dessa banda fictícia, os Beatles estavam prontos para experimentar mais em suas composições. Com diversas influências estilísticas que vão desde o vaudeville presente em “Being for the Benefit of Mr. Kite!” à ascendência indiana de “Within You Without You”, as 13 faixas criadas pelos alter-egos do Fab Four abordam temas como sexualidade, morte, drogas, expansão da consciência e escondem enigmas que até hoje tiram o sono de beatlemaníacos pelo mundo.
Adoraria comentar faixa a faixa do Sgt Peppers e todos os mistérios ao redor desse álbum, mas daí isso aqui ia virar um livro e a postagem não sairia hoje. Então decidi pegar apenas a faixa final que é uma das mais intrigantes do álbum: minha queridinha ‘A Day In The Life’, que foi composta por John Lennon e Paul McCartney e que, coincidentemente, completa hoje mesmo 50 anos desde a finalização de sua gravação.
Em 10 de Fevereiro de 1967 uma orquestra com 40 integrantes se reuniu para gravar os crescendos do meio e do fim dessa faixa, que depois foram quadruplicados, criando o efeito de uma orquestra de 160 músicos acompanhando as outras partes já gravadas previamente por John e Paul. A pedido dos Beatles, os músicos compareceram à gravação vestidos de gala, mas com acessórios burlescos. Para nossa felicidade, a sessão, na qual também estavam presentes Mick Jagger, Marianne Faithfull, Keith Richards, Donovan e outros amigos da banda, foi gravada – reparem nos narizes de palhaço, óculos coloridos e diversos acessórios dos músicos:
Apesar das afirmações de John Lennon de que a inspiração para a letra de ‘A Day In The Life’ veio de uma notícia que ele leu num jornal londrino, há quem diga que a música narra a suposta morte de Paul McCartney, mas isso é assunto para outra postagem. E esse é apenas um dos mistérios dessa faixa que, com pouco mais de cinco minutos, tornou-se a mais longa dos Beatles até então. No vinil britânico original, a faixa ainda conta com um ruído em alta frequência que é audível apenas para cães, e um diálogo reverso no final onde John diz ‘been so high’ e Paul responde ‘never could be any other way’ que fica se repetindo até que a agulha da vitrola seja levantada. Infelizmente isso tudo foi cortado das versões americana e brasileira – tenho 2 vinis do Sgt Peppers e nenhum deles tem estes trechos gente, apesar de um deles ter o bigode e apetrechos que acompanhavam a versão original, estes aqui:
E todo o hype que envolve o Sgt Peppers não se limita à música: a arte da capa também é assunto frequente nas rodas de corversa beatlescas. Criada pelos artistas pop Peter Blake e Jann Haworth, a capa do álbum é uma colagem de imagens que traz a tal da banda do Sargento Pimenta acompanhada de uma multidão pronta para assisti-los. Essa multidão é composta por personalidades escolhidas pelos próprios Beatles – ops, perdão, pelos integrantes da banda do Sargento Pimenta. Entre eles estão nomes notáveis da literatura, música, cinema, ciências e espiritualidade. Conforme revelado por Peter Blake há alguns anos, dentre as escolhas de John estava Jesus Cristo e Adolf Hitler, sendo que a imagem do último foi utilizada na versão final da capa, mas acabou sendo ocultada atrás dos integrantes da banda – provavelmente foi melhor assim. ‘Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band’ também foi o primeiro álbum a trazer as letras de todas as faixas na contra-capa.
Veja quem é quem na capa de Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band
Poderia citar mais um milhão de fatos, mistérios e curiosidades sobre a concepção do ‘Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band’, mas prefiro deixar para que vocês desvendem esse álbum por si sós, acompanhados apenas de Billy Shears e de sua banda de corações solitários.
1 comentários
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