‘Planos Para Esta Encarnação’ + Entrevista
Olha aí mais um disco nacional lindão quentinho, pronto para ser ouvido e reouvido. ‘Planos Para Esta Encarnação’ é o álbum de estréia da dupla Antiprisma, e oferece 10 faixas daquela receitinha de folk com pitada psicodélica que a dupla já vinha utilizando desde o lançamento do primeiro EP em 2014.
Conversei com a Elisa e com o Victor sobre algumas faixas favoritas desse álbum que soa como um refresco para os ouvidos e para a alma, confira aqui nosso papo:
Vou começar pelo fim do álbum. A faixa ‘Sermão’ traz diálogos do filme Easy Rider que evocam aquele sentimento de “free spirit”. Na verdade eu sinto algo de libertador presente por todo o álbum, trazer essa ideia foi intencional?
Victor – Sim, você percebeu bem! A gente queria que o fim da experiência de escutar o disco contasse com esse sentimento maior de reflexão. Na verdade, o disco inteiro conta com um pouco disso em diferentes partes, e chegando na “Sermão” você tem esse arremate um pouquinho diferente do resto. Na verdade, a ideia de contar com esse diálogo foi literalmente a última coisa que pensamos para o álbum, quando estávamos concluindo as mixagens.
Elisa – É isso mesmo! Essa coisa da liberdade é bem o sentimento central de todo o disco. Aliás, a maioria dos filmes da nova Hollywood no fim das contas tratam disso também, né… nós gostamos muito dessa vibe. Sobre a Sermão, nós queríamos que ela soasse diferente das outras, gravamos ela de uma forma mais solta, em um take ao vivo, e depois que quase todo o disco estava pronto, achamos que seria legal colocar uma textura diferente nela. Aí surgiu a idéia da cena do Easy Rider e usar os grilos e ruídos na música. Aquele diálogo encaixou com o nosso sentimento no disco, e a fala do Jack Nicholson acabou sendo o “sermão” do álbum.
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‘Das Coisas’ é uma faixa bem enigmática – já a ouvi dezenas de vezes tentando desvendar a conexão entre os versos. Nos falem um pouco sobre ela.
Victor – É uma faixa que gostamos muito de fazer. Em termos de gravação, acabou sendo uma das mais expressivas mesmo, uma das nossas favoritas. O piano da Nicole Patrício (Alambradas) também enriqueceu um bocado o som, a participação dela é muito muito importante naquela faixa. É mesmo uma música muito estranha… no fundo a gente queria fazer uma música com uma sonoridade meio pós-punk mas com viola caipira, e deu no que deu.
Elisa – Boa parte da letra nós fizemos num dia que ficamos acordados até umas 5 da manhã sem perceber. Queríamos fazer uma letra de lista, meio neurótica, com preocupações aleatórias que passam pela cabeça, não necessariamente da mesma pessoa. A idéia é que mesmo se acontecer várias coisas, o mundo não tá nem aí e vai continuar existindo. Ou algo assim.
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Também gostei bastante da sonoridade da faixa ‘Êxodo’, ela me remete à paisagens pitorescas. Qual a principal inspiração para essa música?
Victor – É uma das primeiras canções do Antiprisma. Antes mesmo do nosso primeiro EP a gente já vinha trabalhando nela. Na verdade, a Elisa veio com essa melodia e essa estrutura e logo de cara achei uma coisa fantástica. O arranjo que fizemos tem muito de folk britânico e Velvet Underground, eu acho. Ela é bem forte, talvez o mais próximo que chegamos de um rock mais elétrico, digamos assim. E isso no contexto do disco faz a música dar um salto.
Elisa – Eu fiquei com essa melodia na cabeça um dia e depois fiz aquela letra pensando em alguém indo se aventurar em algum lugar, somente isso. Antes a idéia era uma paisagem de deserto, mas não acho mais que seja isso, fica em aberto agora… Antes eu pensava nela com uma batida bem celta, mas aí vimos que a música tinha mais a ver com a percussão tipo All Tomorrow’s Parties do Velvet.
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Voltando ao tal sentimento de liberdade que citei no início, ele está bem presente na faixa ‘Hoje é Terça e Tudo Bem’. Além da deliciosa narrativa de um dia de folga no meio da semana, o que mais essa música representa?
Victor – Acho que representa levar as irritações do dia a dia para um nível menor, e ver que há muita coisa mais importante que reclamar da terça-feira ou idolatrar o final de semana.
Elisa – Pra mim a idéia de tirar um dia de folga no meio da semana e isso ser uma coisa excepcionalmente boa chega a ser um pouco melancólico, rs. Pra mim essa música representa um sentimento meio escapista. A idéia é refletir sobre separar o que realmente importa na vida e o que não importa, e não deixar coisas que não importam estragar o seu dia, mesmo que seja numa terça feira e, quem sabe, mesmo sem precisar tirar uma folga.
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Deu pra perceber que o álbum vai fundo na reflexão né? Pois não deixem de ouvir e tentar desvendar a mensagem por trás das demais faixas dessa jóia do folk brasileiro, este é com certeza um bom plano para esta encarnação: